Jornal Correio Braziliense

Economia

Operadora francesa, interessada na brasileira GVT, opta por aguardar oferta da Telefônica e parecer da Anatel

A francesa Vivendi não vai entrar em uma guerra de preços com a espanhola Telefônica para arrematar a GVT, pelo menos por enquanto. Fontes próximas à negociação disseram ao Correio que a empresa vai aguardar o posicionamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) antes de fazer uma contra-proposta para cobrir a oferta da Telefônica. ;Há outras condições para a empresa ser vendida;, ponderou a fonte. A primeira são as ;pílulas de veneno; dos contratos, clásulas que impedem que a companhia seja vendida por um preço inferior a R$ 6,5 bilhões ou R$ 48 por ação, exatamente a oferta feita pela Telefônica. A segunda condição é a aprovação da Anatel.

;Só depois disso é que vamos tomar uma decisão (de aumentar a oferta ou não); não antes. Não temos pressa;, argumentou a fonte. A expectativa é de que a agência se manifeste sobre a aquisição da GVT até a primeira semana de novembro, o que daria tempo para a Vivendi analisar o próximo passo para fechar o negócio até 19 de novembro, data fixada pela Telefônica para a oferta pública de ações. ;Por que Telefônica só fez uma oferta até agora? Porque ela está em uma posição confortável. Agora que GVT ficou à venda, decidiram comprá-la. É uma tragédia. A GVT é uma empresa fantástica. Quando entra em uma nova cidade ou região, reduz 50% dos preços dos serviços de telecomunicações. Por que não querem competição? Porque a Vivendi é uma companhia competitiva;, criticou a fonte.

Segundo Luis Cuza, presidente da Associação Brasileira de Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), a Vivendi tem oferta de pacotes na França por valor equivalente a R$ 75 que incluem banda larga com velocidade de 20 megabyte por segundo, 140 canais de TV paga e ligações locais ilimitadas. Para ele, a entrada da companhia no país poderia aumentar a competição no setor e beneficiar o consumidor.




Agência daria o sinal verde

Especialistas de mercado descartam que a Anatel vá barrar a aquisição da GVT pela Telefônica. A justificativa é de que se isso não ocorreu na época da venda da Brasil Telecom (BrT) para a Oi, que representou a união de duas concessionárias, algo muito mais complexo, na negociação em questão, que envolve a compra de uma empresa autorizada por uma concessionária, as chances de um impedimento são ainda menores. ;Por uma questão de interesse nacional, o governo mudou o regulamento de telecomunicações para permitir a compra da BrT pela Oi. Eu não acredito, em nenhuma hipótese, que a Anatel será contra a aquisição da por parte da Telefônica, que só atua em São Paulo, de uma autorizada;, analisou um consultor especializado no setor, que pediu anonimato.

Para a fonte, o artifício que está sendo usado pela Vivendi tem o objetivio de não aumentar a oferta agora e correr o risco de a Telefônica entrar numa guerra de preços com ela. ;Ou estão sem grana para encarar a briga pela compra ou não querem que isso seja divulgado para não despertar a Telefônica que, de fato, está fazendo uma oferta hostil.; Para o especialista, na verdade, a Vivendi vai ;pagar para ver; se a oferta da Telefônica será aceita pelos acionistas da GVT ou não, para só depois agir. ;O que a Vivendi pode fazer é esperar o dia seguinte e fazer outra oferta;, avalia.

Como os controladores da GVT têm apenas 35% das ações da companhia, o restante das ações é pulverizado. Assim, quem detiver 51% dos papéis torna-se o controlador da empresa. Por isso, o consultor especula que os controladores da GVT podem ter feito um acordo com a Vivendi de só vender suas ações para a companhia francesa e ela, por sua vez, pode ter ido a mercado comprar os papéis necessários para obtenção do controle da GVT. (KM)