O mercado interno tem sido responsável pela recuperação da economia brasileira, conforme as projeções do boletim Informe Conjuntural, divulgado nesta quarta-feira (30/9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No entanto, os investimentos e as exportações têm imposto limites à recuperação do setor industrial.
A CNI revisou a estimativa de crescimento em 2009 com o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e riquezas produzidos no país), passando de -0,4% para zero. A expectativa para o consumo das família neste ano também foi revisada de 0,7% para 2,4%.
[SAIBAMAIS]"O consumo das famílias, alavancado pela melhoria do mercado de trabalho e pelas condições de crédito para as famílias, para as pessoas, que foram recompostas, pelas desonerações e pelos benefícios previdenciários e sociais, se mantém. [Essa foi] a razão de o PIB não cair em 2009", afirmou o economista Flávio Castelo Branco, gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI.
Pela expectativa, a economia brasileira está em processo de recuperação, com a projeção da taxa de desemprego diminuindo de 9% para 8,1%. Por outro lado, a estimativa para o PIB industrial em 2009 piorou, passando de -3,5% para -4%. Segundo o economista, a demanda externa permanece muito fraca e retraída, fazendo com que, no setor industrial, a recuperação seja limitada.
Castelo Branco explicou também que a recuperação do setor industrial tem sido limitada pela baixa demanda de investimentos devido aos efeitos da crise externa. A queda na formação bruta de capital fixo (investimentos), por exemplo, está sendo projetada pela CNI este ano de -9% para -12,8%.
"Quanto as investimentos, há sinas de que possam, talvez, mostrar alguma reação, mas em um nível muito inferior ao do no ano passado. As importações de bens de capital [máquinas e equipamentos destinados à produção] ainda não retomaram o ritmo anterior", enfatizou o economista.
Ele ressaltou que a produção doméstica de bens de capital melhorou, mas continua em retração. "Isso é sinal de que os investimentos ainda vão demorar alguns meses para mostrar uma reação mais forte."
Trabalho, inflação e juros
Quanto ao mercado de trabalho, Castelo Branco disse que as notícias mostram que o ajuste foi completado, embora na indústria a reação seja considerada moderada. A projeção para a taxa de desemprego, lembrou, melhorou de 9% para 8,1% na média anual calculada sobre a população economicamente ativa.
As projeções mostram ainda que a demanda não tem pressionado a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve ficar em 4,2%, taxa inferior ao centro da meta de 4,5%. Isso deve-se, principalmente, à desaceleração dos preços industriais. Os representantes do setor reclamam da paralisação das quedas na taxa de juros por parte do Banco Central.
A taxa nominal de juros foi mantida na projeção e deve chegar no final do ano em 8,75%. Já a taxa real, descontada a inflação, foi projetada em 5%. O câmbio estimado ficou em R$ 1,77 no final do ano. No entanto, as projeções mostram piora do deficit público nominal, que passaria de 2,8% para 3,6%.
O governo também não faria um superavit primário de 2,2%, como estimado em junho, mas sim de 1,3%. Na avaliação da CNI, isso implicaria em um aumento da relação entre a dívida pública e o PIB de 38,8% para 44% em dezembro de 2009.
"Para haver crescimento do PIB hoje, é preciso haver investimento doméstico e que a demanda externa melhore substancialmente. Essa é a condição para que passemos de um crescimento zero para um crescimento positivo", concluiu.