O mercado financeiro continua sem um norte para o comportamento da inflação neste ano. Em menos de um mês, os resultados colhidos pelo Banco Central na pesquisa Focus para o indicador mudou três vezes. Saiu, há quatro semanas, de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,53%, para o patamar de 4,32% nesta segunda-feira (24/8), o que correspondeu a um salto de 0,21 ponto percentual entre uma verificação e outra.
[SAIBAMAIS]Na prática, quer dizer que o grosso do mercado se confundiu quanto à trajetória para a inflação oficial neste ano. "O que acontece é que os IGPs (indicadores de atacado, que servem de parâmetro para reajustes em contratos de aluguel e conta de luz) estão caminhando para patamares muito, muito baixos", relaciona o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Os indicadores de inflação no atacado têm sido pressionados pela desvalorização do dólar frente ao real, e pela baixa demanda nos países exportadores de mercadorias brasileiras, que ainda vivem em recessão. Os resultados dessa combinação foram que, pela primeira vez desde 1944, os IGPs vão fechar o ano em deflação (crescimento negativo).
Atacado
Em quatro semanas, as projeções para dois dos indicadores de inflação no atacado foram revisados pelos especialistas no mercado financeiro quatro vezes. O Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) variou de uma alta 0,30% para uma deflação de 0,73%, uma queda de 0,57 ponto percentual. Para Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI), a queda foi ainda maior: De alta de 0,5%, há quatro semanas, para uma deflação de 0,57% hoje, uma variação de 1,07 ponto percentual.
Para 2010, o mercado manteve boa parte das projeções para os indicadores de inflação, o que, na opinião do economista-chefe da corretora SLW, Carlos Thadeu Filho, tende a se reverter até o fim do ano. "Há uma pressão de baixa, sobretudo para a área de alimentos, o que tende a fazer com que as projeções (do mercado) sejam reajustadas para baixo também para o próximo ano", explicou.
O economista raciocina que, com indicadores de preços administrados em queda, a inflação para o próximo ano deverá rolar em baixa, acompanhando a demanda externa e a desvalorização do dólar frente ao real. "Para que o cenário de baixa se perpetue, é necessário que os preços administrados (corrigidos pelos IGPs) fiquem em torno de 3,5% e que o câmbio (dólar) seja menor ou igual a R$ 1,90", detalha José Francisco.