Jornal Correio Braziliense

Economia

Concentração no comércio é a maior desde 2003

A concentração de poder econômico nas grandes redes de comércio varejista brasileiro atingiu em 2008 o nível mais alto desde 2003. A informação é de uma pesquisa inédita da empresa de informações e análises econômico-financeiras Serasa Experian. Numa escala de 0 a 1, na qual 0 significa igualdade total (todas as lojas têm a mesma participação no mercado), e 1 significa concentração total (apenas um estabelecimento detém todo o mercado), o indicador atingiu 0,931 no ano passado, ante 0,909 em 2007. Em 2003, início da série histórica da pesquisa, o índice era de 0,896. Para calcular os níveis de concentração, a Serasa Experian usou como base dados de faturamento líquido de 9,8 mil empresas comerciais, que juntas faturaram R$ 268,9 bilhões no ano passado As explicações para o crescimento da concentração recorde variam de setor para setor. Mas são duas as mais importantes, ressalta o gerente de indicadores de mercado da Serasa Experian, Luiz Rabi. A primeira, são os movimentos de fusões e aquisições que acontecem por decisões estratégicas em cada setor. A outra está ligada ao que ele chama de crédito desigual. "A dificuldade dos pequenos e médios varejistas em oferecer crédito em condições similares aos das grandes redes os fez perder mercado nos últimos anos", explica Rabi. A principal vantagem dos grandes, segundo ele, é a possibilidade de parcelar o preço da venda à vista em até 10 ou 12 meses sem juros, por meio do uso de cartão da própria loja, coisa que os pequenos e médios não conseguem oferecer por falta de fôlego financeiro. No Brasil, o crescimento da concorrência e da concentração a partir de meados dos anos 90 foi violenta. A abertura da economia e a estabilidade que seguiram ao Plano Real viabilizaram os investimentos estrangeiros no setor de distribuição, dando partida a um amplo e fulminante processo de fusões e aquisições, que atingiu inicialmente o setor de supermercados. Grupos estrangeiros como o português Sonae, o francês Carrefour e o holandês Royal Ahold foram às compras no mercado brasileiro. No setor de eletroeletrônicos, o processo foi cruel. "Ele se deu muito menos por aquisições e muito mais por fechamento e falência de empresas",conta o professor Faculdade de Administração e Economia da USP e consultor de varejo, Nelson Barrizzelli. Mais de 180 empresas desapareceram, incluindo grandes redes, como a Arapuã e a Casa Centro. As que sobreviveram, no entanto, emergiram mais fortes e preparadas para a década atual. Para Barrizzelli, o mapa do varejo brasileiro vai sofrer nova e profunda modificação em breve. Por incapacidade de adaptação às novas exigências da competitividade e às novas regras tributárias, 50% dos pequenos varejistas vão sumir ou ser engolidos pelos mais fortes nos próximos dois a três anos. "A informalidade é que permite ao pequeno concorrer em certo nível de igualdade com o grande", diz o consultor. "A situação começa a mudar do ponto de vista tributário por dois fenômenos chamados substituição tributária e nota fiscal eletrônica, e a única maneira do pequeno sobreviver vai ser por meio de lucro operacional." A tendência no mundo todo é para concentração no setor de eletroeletrônicos. Os especialistas explicam que são poucas as empresas que atuam nesse ramo, que exige margens muito baixas e grandes volumes, que vão obter escala e sobreviver. Mesmo em países como os EUA, aonde existem poucas empresas, gigantes como a Circuit City já jogaram a toalha. Segunda maior rede americana de lojas de produtos eletroeletrônicos, a Circuit City foi à falência no ano passado. Atualmente, no Brasil, as cinco maiores empresas de supermercados têm cerca de 60% do mercado. Esse porcentual é maior do que as cinco maiores redes detêm nos Estados Unidos, onde a concentração está na faixa de 30%. Na Europa, dependendo do país, os cinco maiores supermercados chegam a ter 70% ou mais do mercado. Não é o caso da Itália, onde até alguns anos atrás, havia proteção oficial para o pequeno varejo.