Os trabalhadores vão ter um considerável alívio no bolso nos próximos 12 meses. Os preços administrados, que incluem tarifas públicas como energia elétrica, transporte urbano e telefonia, devem subir num ritmo bem menor do que no primeiro semestre ou até mesmo cair. As fórmulas de reajuste desses serviços são bastante influenciadas pelos índices gerais de preços (IGP), que vêm registrando deflação, fenômeno que deve continuar ocorrendo pelo menos até o fim do ano. Pela primeira vez desde a edição do Plano Real, em 1994, esses indicadores de inflação vão fechar o ano em terreno negativo, principalmente por causa do fortalecimento do real frente ao dólar.
;Não há dúvida de que o recuo nos índices gerais vai provocar um desafogo no orçamento dos trabalhadores. Pode até haver até redução de tarifa;, avalia o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ontem, a entidade divulgou o IGP Disponibilidade Interna (IGP-DI) de junho: deflação de 0,64%, número bem menor que a média de 0,41% prevista por analistas. A maior contribuição negativa foi dos preços ao atacado, que recuaram 1,16% no mês. O índice está em -1,68% no acumulado em 2009 e em -1% em 12 meses. Neste ano, o IGP-DI deve ter o menor resultado da história. Até agora, o mais baixo é o de 2005, que ficou em 1,22%. Em julho de 2008, a situação era completamente diferente: a inflação estava positiva na casa dos 15%. ;Agora, muitos desses preços ou não serão corrigidos ou subirão muito pouco;, diz Quadros. Ele não vê motivo para alta do transporte urbano, por exemplo. Seu principal custo, o preço do óleo diesel, acumula queda de 6,96% em 12 meses.
O economista Gian Barbosa, da Tendências Consultoria, acha exagerada a previsão do Banco Central de aumento de 4,5% nos preços administrados neste ano. Sua estimativa é de 3,7% em 2009.
Por causa da desvalorização do dólar, ele projeta queda na tarifa de energia elétrica nas capitais abastecidas por Itaipu, como São Paulo. ;O maior reflexo da deflação nas tarifas será no primeiro semestre do ano que vem, quando várias delas serão revistas para baixo. Os consumidores irão se beneficiar;, diz.
As contas de telefone fixo vão subir, no máximo, 4,14% este ano. Esse foi o percentual acumulado nos últimos 12 meses do Índice de Serviços de Telecomunicações (IST), indexador dos contratos de das concessionárias, divulgado ontem pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mas a correção das faturas deve ficar abaixo desse percentual, pois, desse índice, ainda será deduzido o Fator X, mecanismo que deduz do índice os ganhos de produtividade obtidos pelas empresas. Estima-se que o reajuste pode cair pela metade. (Colaborou Karla Mendes)
; Recuo no uso do parque fabril
A utilização da capacidade instalada da indústria caiu 0,5 ponto percentual após quatro meses consecutivos de alta. Em junho, o setor registrou 79,3% de uso do parque fabril. A avaliação de analistas de mercado é de que com esse recuo haja espaço para crescimento econômico sem alta nos preços. ;Isso ajuda. Abre espaço para retomada sem pressão (inflacionária);, afirma o economista-chefe do banco BES investimento, Jankiel Santos. A capacidade instalada no setor industrial é um dos indicadores analisados pelo Banco Central na definição dos juros básicos (taxa Selic).