São Paulo ; Um levantamento inédito feito pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) revela que os valores das tarifas cobradas pelos bancos que operam no Brasil com mais de 1 milhão de clientes variam até 325%. Além do custo alto, muitas instituições fazem cobranças desnecessárias. No ranking do Banco Central com as 46 maiores reclamações registradas por consumidores, a cobrança indevida de tarifas fica em oitavo lugar. Os bancos que recebem mais reclamações são o Itaú/Unibanco, o HSBC e o Banco do Brasil. O professor Carlos Camargo, 45 anos, mantém uma conta no Itaú há oito anos e já registrou queixa duas vezes contra a instituição. Segundo ele, sempre que retira quatro folhas de cheque no terminal eletrônico, é debitado um talão inteiro. Além disso, as 20 primeiras folhas do mês têm que ser gratuitas. ;Eles sempre devolvem o dinheiro, mas acabo perdendo o meu tempo reclamando;, conta. Ele também se queixa dos altos preços das tarifas. Os preços das tarifas não são tabelados pelo Banco Central. Mas as instituições financeiras devem fixar nas agências, em local visível, os preços cobrados dos clientes. Além disso, os bancos estão obrigados a detalhar as cobranças nos extratos e a oferecer pacotes com o perfil de cada cliente. ;Não consigo entender o que o banco me cobra porque há umas siglas que nunca ouvi falar. Por causa disso, já cancelei um cartão;, reclama a universitária Ana Luíza Pelegrinelli, 21 anos, correntista do Banco do Brasil. Para a economista do Idec Ione Amorim, é preciso muita atenção na hora de conferir um extrato. ;Não existem critérios para a cobrança dessas taxas. Muitas delas são abusivas e passam despercebidas porque o brasileiro não tem o hábito de pesquisar preço, muito menos de conferir o extrato com cuidado;, adverte. Ela cita como exemplo um simples extrato bancário, que pode custar R$ 1,30 no Itaú/Unibanco e R$ 4,30 no HSBC, uma diferença de 230,7%. Cheques De acordo com o estudo do Idec, o serviço bancário que mais sofreu variação (352%) foi a emissão de cheques para transferência. No Itaú/Unibanco, esse serviço é oferecido por R$ 0,40. Já no Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), a taxa é de R$ 1,70. ;Olhando assim, rapidamente, parece que é pouco dinheiro. Mas, se formos somar, muitas vezes a diferença tarifária entre um banco e outro chega a R$ 500;, informa a economista Célia Pinheiro, do Procon de São Paulo. Para o assessor técnico da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Ademiro Vian, os bancos estipulam as tarifas bancárias com base em seus custos operacionais. Ele cita como exemplo o Bradesco, que tem 24 milhões de clientes e um custo operacional muito mais alto que o Citibank, que tem 195 mil clientes. A emissão de um simples cartão de débito no Bradesco custa R$ 3,60. Já no Citibank, o valor desse mesmo cartão salta para R$ 6. ;A tendência é que, quanto mais o serviço é usado, mais barato ele fica;, ressalta Vian. Em relação à transparência na cobrança das tarifas, Ademiro Vian esclarece que os bancos não simplificam mais as siglas porque as normas do Banco Central impedem que isso seja feito. ;Os bancos não podem traduzir as siglas sem autorização do governo;, justifica. Procurado pela reportagem , o Banco Central não se manifestou. Febraban A Febraban é a principal entidade representativa do setor bancário brasileiro. Foi fundada em 1967 para fortalecer o sistema financeiro e suas relações com a sociedade, além de contribuir para o desenvolvimento econômico e social do país. Dos 159 bancos que estão registrados no Banco Central, 120 são associados da entidade.
; Custos elevados Teoricamente, os bancos públicos deveriam cobrar as menores taxas do mercado, já que eles não têm como principal objetivo o lucro. Mas, apesar disso, têm que apresentar bons resultados para garantir sua saúde financeira. Algumas instituições, por exemplo, cobram abertura de cadastro do cliente e, um ano depois, taxam a renovação do mesmo cadastro. Em contrapartida, há bancos, como o Bradesco, onde o cliente nada paga para abrir a conta, mas terá que desembolsar R$ 25 pela renovação do cadastro. Uma das instituições públicas que tem custos mais altos é o Banco Estadual do Rio Grande do Sul (Banrisul). Para iniciar o relacionamento com o cliente, ele cobra R$ 30 e mais R$ 30 de renovação de cadastro. O Banrisul também tem a tarifa mais alta, entre os que têm mais de 1 milhão de clientes, de DOC pessoal (R$ 15), de sustação de cheques (R$ 13,50 por documento), de segunda via do cartão de débito (R$ 8,80) e de pelo fornecimento de cheque microfilmado (R$ 7,50 por documento). Cadastro Outro banco administrado pelo governo que tem custo alto é o Banco da Amazônia (Basa). Criado para fomentar o desenvolvimento da Região Norte e facilitar a concessão de crédito rural na Amazônia, a instituição cobra R$ 54 para abrir o cadastro do cliente. Para renovar anualmente os dados, a taxa é de R$ 35. ;Os bancos públicos deveriam oferecer a menor tarifa, já que a maioria deles processa a folha de pagamento do funcionalismo e oferece empréstimos consignados, uma operação com custo e risco zero;, diz o economista Carlos Santana, da Universidade de São Paulo (USP). A advogada do Procon de São Paulo, Márcia Tubet, chama a atenção para uma prática comum entre os bancos: ;Quanto mais rico o cliente for, menor será a tarifa. O Banco Safra, por exemplo, oferece o abono de uma série de taxas, caso o cliente queira levar a sua conta para lá;, observa. Segundo a tabela do Banco Central, para abrir o cadastro no Safra, o cliente paga logo de cara R$ 1 mil.(UC) ; Transferência Documento de ordem de crédito (DOC) é uma transação financeira na qual os correntistas transferem dinheiro entre bancos. Por norma do Banco Central, o valor trasnferido deve ser inferior a R$ 5 mil. Para valores superiores, é usada a transferência eletrônica disponível (TED). ; Confira a íntegra da pesquisa do Ideq