O mercado externo pode limitar a recuperação da indústria brasileira, que já dá sinais de melhora a partir do consumo doméstico. Segundo pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta terça-feira (30/6), a confiança no setor cresceu pelo sexto mês consecutivo, há perspectiva de melhora nos negócios, mas ainda em um cenário de incertezas.
"O Brasil está crescendo mais que outros países e o mercado externo está limitando (o desempenho). Não há sinalização de retomada no nível da demanda externa. A economia mundial vai acelerar no segundo semestre, mas fica a dúvida se isso será suficiente para um desempenho positivo. A recuperação no mercado externo é muito lenta em relação ao interno", avalia o coordenador do Núcleo de Pesquisas e Análises Econômicas da FGV, Aloísio Campelo Junior.
[SAIBAMAIS]Segundo ele, "as exportações devem começar a crescer no mês a mês", mas não devem ser relevantes para a recuperação da indústria neste terceiro trimestre do ano. Este papel deverá seguir com o mercado doméstico, impulsionado pelas medidas fiscais e pela política monetária do governo.
Em junho, a demanda interna ficou em 95,3 pontos, acima da média histórica de 92,5. A externa, no entanto, ficou 17,3 pontos abaixo da média --em 73,3 pontos em junho.
O desempenho do mercado internacional, segundo o economista, impactou as expectativas da indústria para os próximos seis meses. Ainda que o percentual de empresários confiantes na melhora dos negócios em junho tenha crescido em relação a maio (de 34,7% contra 25,7%), ainda é elevado o número daqueles que estimam piora (27,4% em junho ante 27,1% em maio).
"Há ganho de confiança no mercado interno. As incertezas estão mais atreladas ao mercado externo. Há confiança na retomada, mas há limitações no mercado externo", afirmou o economista da FGV. "Há aceleração em curso na produção, com ajuste de estoques, mas ainda há incertezas quanto a investimentos e emprego." Para Campelo Junior, no entanto, as medidas adotadas pelo governo --em relação a tributos e política monetária-- e a recuperação da economia mundial, ainda que lenta, dão condições para apostar em uma retomada consistente da indústria.
"Se a economia mundial retomar, e a tendência é que isso ocorra, há condições de as empresas brasileiras caminharem com as próprias pernas. O quadro não é de dependência das medidas fiscais. Com a força das políticas monetárias [como redução da taxa de juros], que têm um efeito mais demorado, a importância das medidas fiscais fica menor", disse Campelo Junior, que não prevê a derrocada da indústria após o término dos benefícios concedidos pelo governo.
O economista trabalha com a hipótese de que a indústria tem condições de repetir o desempenho do ano passado (retração de 6%) e que, para tanto, deverá crescer 2% ao mês até o final deste ano.