postado em 29/06/2009 08:22
O Plano Real é um marco para o consumo no Brasil. Inaugurou, de fato, uma nova etapa da economia ao tornar possível a realização de sonhos de consumo que muitos brasileiros julgavam impossíveis. Não se trata de comprar um carrão do ano, um apartamento de luxo ou fazer uma viagem para a Europa. Bens que muitos consumidores nem sequer imaginam a vida sem eles, como geladeira e TV, para boa parcela da população só se tornaram realidade com a estabilidade da moeda.
[SAIBAMAIS]Quando saiu de Souza (PB), há quase 19 anos, e veio tentar a sorte em Brasília, trazendo consigo seis filhos, o sonho da dona de casa Geralda Dias era ter uma televisão. Enfrentou dificuldades mas valeu a pena. Menos de um ano depois, o sonho da dona de casa se tornou realidade. "No dia 17 de abril de 1991, comprei uma TV pequenininha, daquelas do Paraguai. Foi uma alegria só", conta a dona de casa. "Naquela época, quem podia ter um carro? Quem podia comprar uma geladeira? Eu não tinha nada, só os filhos. Meu primeiro armário foi um caixote de verduras", conta.
Hoje, a geladeira e a melhoria da renda que vieram depois do Plano Real (1º de julho de 1994) garantem mesa farta na casa de Geralda. "Antes tinha que comprar as coisas todo dia, pois não tinha como guardar", diz. Depois que a TV de cinco polegadas em preto e branco estragou, a dona de casa comprou outra, colorida, a primeira da Estrutural, em 1994. Depois, foi a TV de 29 polegadas, adquirida na Copa de 2008, e mais tanquinho, videocassete, DVD, geladeira, telefone fixo, celular, e até um carro, um Gol 1997.
"Agora só falta a máquina de lavar. A prestação do carro, de R$ 447, termina em setembro. Aí vou poder comprar a máquina", planeja. E foi exatamente assim que a família conseguiu montar a casa com tudo de que precisa: financiando em parcelas que cabiam no orçamento. "Quando eu tinha seis anos, lembro que meu pai tinha crédito, mas precisava de avalista. Hoje é bem mais fácil. Tenho crédito em qualquer lugar", comenta.
Impulso
Para Jackson Schneider, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores, a consolidação da moeda impulsionou e consolidou a indústria automotiva no país. "O Plano Real criou a base para a economia se desenvolver", reforça. Tanto que, nos anos de 1996 e 1997, foi criado o Regime Automotivo Brasileiro, que aumentou a produção das fábricas já existentes e atraiu novas unidades para o país. Para ele, a maior oferta de modelos e a facilidade de compra mudaram o conceito do automóvel de patrimônio a bem de consumo.
O professor Claudio Felisoni de Angelo, coordenador do Programa de Administração do Varejo (Provar / USP) considera a superinflação vigente antes de 1994 um imposto regressivo. "Imposto porque retira renda e regressivo porque penaliza quem ganha menos", explica. Com o Real, o consumidor passou a saber o que seu salário podia comprar, mudando as condições e a dinâmica da sociedade de consumo. A internet também favoreceu a queda de preços, facilitando o levantamento de informações. "Antes a gente telefonava para a loja e o vendedor não informava o preço por telefone", lembra.
A vida mudou mesmo nos últimos anos. Telefone celular era um sonho. Hoje já são mais de 150 milhões o número de linhas ativas, graças ao fenômeno do pré-pago, que representa mais de 80% da base de clientes. Bens básicos, como geladeira e TV, passaram a fazer parte de muito mais lares. A presença de geladeiras nas residências, por exemplo, saltou de 71,8% em 1993 para 91,4% em 2007, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).