Países, aliados ou não, travam disputa para conquistar novos mercados consumidores. A demanda das nações desenvolvidas caiu drasticamente e colocou o Brasil no alvo de exportadores. A indústria automotiva internacional, uma das que não acreditavam no potencial brasileiro, agora não abre mão dele. A americana Mercedes-Benz aposta na venda do Smart Fortwo, carro esportivo da marca para duas pessoas; a chinesa Chery desembarca com o Tiggo no mês que vem; o novo Mini Cabrio, representado pela alemã BMW, chega às revendas em setembro. Além de tentar ganhar espaço em novos mercados, medidas protecionistas e práticas desleais de concorrência põem mais fogo ainda nessa batalha, colocando em risco a produção nacional e empregos.
;À medida que os países afetados pela crise não vendem, protegem a sua economia e buscam novos mercados. O Brasil também faz isso, mas dentro dos parâmetros da OMC (Organização Mundial do Comércio);, explica o economista Alexandre Brito, do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
A OMC alerta para a "fermentação do protecionismo" no planeta e avalia incluir medidas brasileiras de restrição à importação ao aço na lista de barreiras protecionistas adotadas pelos governos. O diretor da entidade, Pascal Lamy, já alertou que o protecionismo comercial está ocorrendo diante da recessão, apesar de todas as promessas de governos de que não apelariam a barreiras contra importações. "Há uma fermentação protecionista. Todos concordamos que não tomaríamos o caminho do protecionismo. Mas, como era esperado, ele já está ocorrendo", afirmou Lamy, na quinta-feira, em Genebra, para lidar com os impactos da recessão.
Exemplo disso ocorreu na China, que este mês reduziu impostos sobre mais de 600 produtos para exportação com o intuito de consolidar a recuperação da atividade econômica do país. As isenções fiscais ficaram entre 5% e 17%. A medida deixou setores no Brasil preocupados. Máquinas de costura e aparelhos de ar condicionado, foram contemplados com a redução máxima, de 17%. Outros produtos, como brinquedos, móveis e sucos, tiveram redução de 15%. No último dia 27, o governo chinês adotou medidas de apoio ao setor exportador, como fixar para 2009 uma meta de US$ 84 bilhões de garantias em créditos para as exportações. As exportações chinesas caíram 22,6% em abril em relação ao mesmo mês do ano passado, contra 17,1% em março.
Hermanos, pero no mucho
;A principal barreira é o mercado que não é comprador. E, para atingir por esse pequeno mercado que sobreviveu a crise, há uma guerra não declarada. Os países estão se fechando, mas todos cumprem acordos, com exceção da Argentina;, destacou a professora da FGV/IBS, Virene Matesco. Os industriais argentinos, respaldados pelo governo da presidente Cristina Kirchner, conseguiram impor duras restrições às exportações brasileiras durante encontros bilaterais realizados em Buenos Aires, no início do mês. O setor moveleiro determinou uma redução de 35% das exportações em relação ao volume vendido em 2008. Os fabricantes brasileiros de autopeças também aceitaram reduzir em 30% as vendas externas de freios ao país vizinho. A porcentagem é relativa aos primeiros seis meses de 2009 e o acordo passa a valer a partir do segundo semestre deste ano. As barreiras argentinas atingem 14% das exportações brasileiras ao país.
Em encontro em abril em Buenos Aires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner destoaram quando o assunto foi barreira comercial. Lula disse compreender que em tempos de crise todos os países do mundo tentem cuidar de seu país em função da conjuntura e, nesse sentido, vários países tomem as medidas que achem necessárias. Já Cristina ponderou que as medidas protecionistas não são só as aduaneiras. Para ela, ;quando um país concede incentivos fiscais a suas empresas, isso é protecionismo fiscal. Se há desvalorização da moeda, também há protecionismo;.
Nos primeiros cinco meses do ano, as empresas brasileiras exportaram para a Argentina US$ 3,897 bilhões, valor 44,2% menor que o registrado no mesmo período de 2008 (US$ 6,978 bilhões). Nessa comparação, observou-se também a retração da participação das exportações para a Argentina de 9,7% nos cinco primeiros meses de 2008 para 7% em 2009. Os principais produtos foram automóveis de passageiros (com participação de 15,2% no total exportado), autopeças (8,6%), aparelhos celulares (6,6%), polímeros (3,2%), veículos de carga (3,1%) e tubos de ferro (2,9%). As importações brasileiras de produtos argentinos, nos primeiros cinco meses do ano, chegaram a US$ 3,930 bilhões, desempenho 25,8% menor em relação a ao mesmo período do ano passado (US$ 5,298 bilhões). A participação argentina no total das importações brasileiras subiu de 8,3% de janeiro a maio de 2008 para 8,5% neste ano.
Subsídios dados por Estados Unidos e Europa, além de elevação de barreiras no Equador, Índia, Zâmbia ou mesmo no Brasil no setor do aço vêm se proliferando. Dados coletados pela própria OMC apontam que o número de novos casos de medidas antidumping também teve uma alta nos últimos seis meses. No caso do Brasil, o país elevou as taxas de importação ao aço há uma semana. Fontes do gabinete de Pascal Lamy indicaram que a entidade estuda se essas medidas serão incluídas na lista de barreiras adotadas pelo mundo. Lamy explicou que a lista deve ser publicada em duas semanas. (Com agências)