Jornal Correio Braziliense

Economia

Fabricantes brasileiros disputam mercado italiano de calçados

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Novo Hamburgo (RS) - A briga pelo mercado externo de calçados deslocou-se para a cidade italiana de Riva del Gardia, onde se realizou, de sábado (6/6) a terça-feira (9/6), a Expo Riva Schuh, uma das principais feiras europeias do setor, para apresentar a moda primavera-verão 2010. Lá estavam representadas 25 marcas brasileiras, um aumento significativo em relação ao ano passado, quando o Brasil teve 17 participantes. Foi a sétima vez que fabricantes brasileiros participaram da feira, com o apoio do Brazilian Footwear, Programa de Promoção às Exportações desenvolvido pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), sediada em Novo Hamburgo, em parceria com a Agência de Promoção às Exportações e Investimentos (Apex Brasil), do governo federal. A Itália é um importante mercado para o calçado feminino brasileiro. No ano passado, comprou 7,5 milhões de pares, que custaram R$ 149,2 milhões. De janeiro a abril de 2009, foram embarcados 2,29 milhões de pares, no total de US$ 36,5 milhões. Na Expo Riva do ano passado, os calçadistas brasileiros venderam US$ 1,4 milhão a compradores de 35 países. Mesmo com a crise mundial, a Expo Riva é importante para os exportadores ampliarem o relacionamento comercial com os clientes em potencial. O diretor de Marketing de um grande fabricante do setor, Paulo Killing, diz que as vendas externas representam 50% da produção da empresa, que direciona o restante do que fabrica às vendas internas. Ele deixa claro que a crise não está afetando os negócios da fábrica, como ocorre com muitas de suas concorrentes, graças a uma política de diversificação das vendas que leva sua bandeira para mais de 100 países. "Hoje, se fala muito de crise, mas para o calçadista do Vale dos Sinos, acostumado a exportar grandes volumes, isso não é nenhuma novidade. Já tivemos severas crises, em que o dólar chegou a menos de um real há alguns anos, e várias empresas fecharam as portas. Depois, tivemos o crescimento muito grande da indústria calçadista chinesa e, recentemente, o dólar teve nova baixa muito forte", explicou. Diante desse quadro, Killing diz que sua empresa adota a estratégia da "perenidade" nos negócios, mesmo diante da instabilidade de fatores macroeconômicos. Para isso, buscou fortalecer a marca, investindo numa rede própria de varejo e aumentando o valor "percebido" e o próprio preço dos seus produtos. "Isso fez com que nos descolássemos da competição com os chineses e passássemos a ser vistos no mercado internacional não como um 'fabricante', mas sim como uma 'marca de calçados'. Você pode substituir um fabricante na prateleira, mas não pode substituir tão facilmente uma marca pela qual o seu consumidor procura no ponto de venda", disse. Killing explica que lá se procura evitar o termo crise. "O que se procura identificar são oportunidades dentro de um cenário de mudanças e estamos identificando uma mudança do padrão econômico. Verificamos que havia uma vertente que levava a lojas exclusivas de marcas, como já existe nos Estados Unidos e Europa: grandes cadeias varejistas de marcas própria. Decidimos implantar esse modelo no mercado brasileiro, para colocar a marca em contato direto com o consumidor, eliminando a loja multimarca". A experiência começou há cinco anos, no Chile, país escolhido pelas facilidades de acesso e pela estabilidade da economia além de "apresentar similaridades com a economia européia e mesmo norte-americana". Depois de três anos, são 154 lojas no Brasil e 80 no exterior, o que também serve para diluir os riscos. "Se o Brasil está passando por um momento difícil, há outros 100 países que podem estar atravessando momento melhor", avalia Killing. "O calçado para a mulher é uma paixão", afirma Paulo Killing, lembrando que atualmente isso também vem acontecendo com as bolsas. "E o duro é que são muito mais caras do que sapato". Segundo ele, mais da metade do movimento econômico de varejo mundial venha da moda. "Por isso é preciso reinventar coisas, para alimentar a indústria do desejo". Por estação, são lançadas, no mínimo, três a quatro coleções, com 500 a 600 modelos cada uma.