Jornal Correio Braziliense

Economia

Investimentos podem recuar até 3% no ano, admite governo

;

O corte dos investimentos da Vale, anunciado na semana passada, não foi uma decisão isolada. O investimento total do país -um componente importante no crescimento econômico- deverá cair neste ano. Até o governo admite queda de investimento, entre 2% e 3%. A previsão é da SPE (Secretaria de Política Econômica), do Ministério da Fazenda, que inclui na conta os investimentos dos setores privado e público e da construção civil. A queda prevista só não é maior porque o governo estima que as obras feitas pela Petrobras devam crescer na ordem de 0,4% do PIB e a contribuição de obras do PAC e outros projetos públicos deva aumentar mais 0,3% do PIB (inclusive do programa Minha Casa, Minha Vida). O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, explica que, na projeção de crescimento de 1% do PIB para este ano, o governo estima que o consumo das famílias e os gastos do governo (com investimentos e em custeio) irão subir. Mas, por outro lado, os investimentos totais no país vão cair, assim como as exportações. No ano passado, os investimentos foram, ao lado do consumo interno, o motor do crescimento econômico. Segundo dados do IBGE, foram investidos no país R$ 548,7 bilhões em 2008. O valor representa cerca de 20% de todas as riquezas produzidas no país. E foi 14% maior do que em 2007. A queda dos investimentos é uma das consequências da crise no país. Ao perceber a queda no consumo e nas exportações, as empresas perdem o estímulo para investir. Mesmo as que ainda preveem que, no futuro seus negócios possam crescer, enfrentam a barreira da falta de crédito para iniciar as obras. As previsões de analistas também são de queda do investimento. Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, projeta redução de 5% dos investimentos totais. Ele diz que a maior queda será no setor produtivo. "Os setores de metalurgia e mineração estão entre os mais afetados pela crise.". Otimista, Pessoa diz acreditar que as empresas voltem a tirar projetos do papel no segundo semestre, quando, para ele, o mercado internacional vai começar a melhorar. Ele também lembra que o BNDES, com um caixa de R$ 100 bilhões, irá suprir parte da falta de crédito. "O BNDES vai fazer desembolsos de pedidos de financiamentos feitos no ano passado", afirma. Tomás Málaga, do Itaú BBA, prevê que os investimentos vão cair 3% no ano, o que também inclui uma recuperação no segundo semestre. Mais pessimista, o presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), Luís Afonso Lima, acredita em recuo de até 6%. Segundo Lima, se forem excluídas da conta as obras públicas, das estatais e da construção civil, a queda dos investimentos pode chegar a 20%. Ele aponta as empresas exportadoras e produtoras de commodities como as mais afetadas.