A chamada economia "subterrânea" - produção de bens e serviços não reportada ao governo -, que mede o mercado informal e os movimentos ilegais entre os formais, cresceu ainda mais durante os primeiros impactos da crise econômica no país, no último trimestre do ano passado.
Naquele período, essa economia teve expansão de 13,6% dentro do Produto Interno Bruto (PIB), impulsionada pela falta de crédito no mercado formal, que pode ter levado as empresas a recorrerem a atividades não-declaradas ao governo.
Nos três trimestres anteriores, a expansão da economia subterrânea dentro da economia total não havia sido superior a dois dígitos. Segundo o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), a economia formal representa de 20% a 30% do PIB. O levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) não detalha valores dessas participações.
"A gente percebe é que a parada de crédito deu uma pancada muito forte na economia formal, mas os dados não mostram a economia subterrânea sendo afetado por ela. É até natural, visto que, como é subterrânea, não necessita do crédito para continuar o seu movimento", afirmou o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa, do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV.
De dezembro de 2007 a dezembro de 2008, a economia subterrânea teve expansão de 27,1% no PIB, a maior da série iniciada em 2003. Esse movimento foi influenciado também pelo aumento da atividade econômica durante boa parte do ano passado, que acabou impulsionando a economia ilegal.
"As economias crescem em paralelo, uma alimenta a outra. Renda gerada na economia subterrânea é gasto na economia formal, e renda gerada na economia formal também é gasto na economia subterrânea", explicou.
Outros fatores, no entanto, também determinam o índice da FGV, como o nível da carga tributária do país, a percepção da corrupção junto a empresários e o nível das exportações, que segundo Barbosa, é um bom medidor das irregularidades, pela grande burocratização.
"As variáveis todas combinadas, com exceção da exportação, implicaram nesse aumento. O nível de atividade contribuiu porque o desemprego estava caindo e a carga tributária mais uma vez foi o fator com maior contribuição. E a corrupção também", observou.
Os dados da pesquisa mostram que até setembro, o nível de atividade econômica era o principal fator que impulsionava a economia subterrânea. Depois da crise, a influência da carga tributária levou mais gente ao campo da economia ilegal.
"Isso é um sintoma de que alguma coisa está estranha com a economia brasileira. Deve ter alguma coisa empurrando as empresas para a economia subterrânea, ao invés de ir para a formal. A principal variável que a gente vê é a carga tributária, ela explica grande parte desse aumento", comentou Barbosa.