O mercado de trabalho brasileiro apresenta sinais de forte desaceleração do ritmo de crescimento. Embora o número médio de ocupados no primeiro trimestre de 2009 tenha sido 1,4% maior do que o do mesmo período em 2008, nos últimos meses o indicador apresentou trajetória descendente, e, em março, ficou abaixo de 1%, o que só havia ocorrido uma vez desde 2004. A constatação faz parte do Boletim de Mercado de Trabalho, divulgado nesta quarta-feira (13/5) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O documento indica, no entanto, que, de janeiro a março de 2009 essa inversão de tendência não atingiu o grau de informalidade e o rendimento médio do trabalhador, na comparação com os dados do mesmo período do ano passado.
De acordo com o técnico de Planejamento da Coordenação de Trabalho e Renda do Ipea, Roberto Gonzalez, essa realidade traduz bons resultados, porque revela que, apesar de o mercado ter sido atingido pela crise econômica internacional, as empresas tem reagido redução das perspectivas de crescimento reajustando o nível de emprego e não substituindo vínculos formais por trabalho informal.
Os dados analisados no estudo apontam que o grau de informalidade sofreu uma redução de 1,3 ponto percentual entre o primeiro trimestre de 2009 e igual período de 2008. O movimento, de acordo com o boletim, foi puxado pela expansão de 3,8% dos postos formais e pela contração de 1,9% no número de trabalhadores informais (empregados sem carteira assinada, não remunerados e por conta própria). Também ao longo do primeiro trimestre deste ano não houve sinal de piora.
Apesar da redução do crescimento do emprego, não está havendo troca do trabalho formal pelo informal, o que é um bom sinal, já que o trabalhador mantém o patamar de direitos. O problema é que o Brasil vinha num processo de crescimento de formalização e que está sendo interrompido, mas pelo menos não estamos voltando a uma era de informalidade, o que seria mais difícil de se reverter e demandaria mais longo prazo, afirmou.
O técnico do Ipea destacou ainda como fator favorável o fato de os rendimentos não terem caído no período. No primeiro trimestre deste ano, segundo o levantamento, houve elevação de 5,2% no rendimento médio do trabalhador na comparação com o do mesmo período do ano passado. Ao longo do trimestre, constatou-se um movimento muito tênue de declínio.
Isso tem segurado um pouco a queda na massa salarial, avaliou. Roberto Gonzalez chamou a atenção, no entanto, para a possibilidade de a demanda por mão de obra estar perdendo o dinamismo registrado nos anos anteriores. Segundo ele, esse é um fato preocupante.
Apesar de os resultados serem satisfatórios em linhas gerais, o que nos preocupa é a lentidão com que o mercado de trabalho está se recuperando, em termos de criação de emprego, após os primeiros impactos da crise. A geração de emprego tem sido bastante pequena, menor do que seria necessário para evitar um crescimento do desemprego. No início, ninguém sabia até onde os efeitos da crise iriam, mas verificou-se que o mercado de trabalho foi atingido até de forma mais leve do que se esperava. No entanto, é preciso acelerar o ritmo de crescimento do emprego para sair dela [da crise], destacou.
Ele defendeu mais investimentos no mercado interno como forma de se ampliar a geração de emprego, além de outras medidas anticíclicas que o governo já vem adotando.
Podem ajudar neste momento a expansão do seguro-desemprego e da transferência de renda, que ajudam a segurar a demanda, além da ampliação do crédito e, principalmente, dos investimentos no mercado interno. Como se trata de uma crise internacional, todo mundo lá fora também foi atingido. Por isso, o Brasil precisa se beneficiar do fato de seu mercado ser bastante grande, disse.