Jornal Correio Braziliense

Economia

Etanol em fase ruim

Setor sucroalcooleiro vive momento crítico, sofre com dívidas exorbitantes e não vislumbra chances de breve recuperação

De galinha dos ovos de ouro a patinho feio do campo. O setor sucroalcooleiro nacional vive sua pior crise e, pelo menos por enquanto, não vê sinais de recuperação no horizonte. Devido aos vultosos investimentos em terras e maquinário, grandes, pequenas e médias empresas estão afundadas em dívidas e com dificuldades de obter crédito. A queda no preço do barril do petróleo e a crise econômica internacional deram o golpe de misericórdia, imobilizando projetos nacionais e estrangeiros. Do boom que contagiou empresários de norte a sul do país em 2006, restam agora contas a pagar e muitas incertezas. Com tantas variáveis negativas interferindo no negócio, o ritmo de fusões e aquisições ao longo de 2009 tende a se manter acelerado. A diferença é que, ao contrário do ano passado ; quando houve 14 operações significativas de compra ;, o valor patrimonial das indústrias de álcool e açúcar corre o risco de despencar. O terreno está fértil para pechinchas, alertam os especialista. ;A consolidação do setor se manterá porque os ativos estão desvalorizados;, explica Antonio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Mais concentrado e enxuto, o segmento torce por uma melhora dos preços do etanol, que poderia servir de alento, mas que teima em acontecer. Até novembro ; período de safra em que as destilarias esmagam a cana colhida ; a expectativa é de que os preços desabem, ainda que o mercado interno continue em expansão. Em São Paulo, por exemplo, a baixa é tão expressiva que o litro do etanol usado diretamente no tanque dos carros (hidratado), sem a incidência de impostos, sai da indústria custando R$ 0,58. Em março de 2006, auge da valorização, o preço bateu em R$ 1,24. No interior paulista e na capital, o litro do álcool já vale menos de R$ 1 nas bombas. Abaixo dos R$ 0,80 na usina os produtores afirmam que o prejuízo é líquido e certo. ;Ninguém está tendo resultado positivo. O etanol sequer se remunera no cenário atual;, completa Pádua. Uma forma de interromper o processo seria promover um ajuste severo na produção, na tentativa de equilibrar a oferta. Isso, no entanto, não é possível no momento porque as companhias necessitam fazer caixa para se manter de pé. Endividamento A ;queima de estoque; está a todo vapor porque as usinas acumularam um passivo financeiro gigantesco e precisam saldá-lo o mais rápido possível. Conforme estimativas do Itaú BBA, a dívida líquida bancária das usinas alcança R$ 40 bilhões ; endividamento que começou a ganhar corpo a partir de 2007. Naquela época, a tomada de crédito sustentou boa parte das exportações e ajudou as destilarias a renovarem ou ampliarem seus parques, além de abrir caminhos para a introdução de novas técnicas de produção que permitiram inclusive que as usinas passassem a fornecer energia elétrica. Hoje, com a crise, poucos se arriscam a inovar. A prioridade é sobreviver. Tábua de salvação, o mercado interno ganhou ainda mais relevância nos últimos dois meses. As usinas acreditam que o aumento do consumo de etanol por carros flex no Brasil pode ajudá-las a sair do buraco. No mês passado, a Unica fechou um acordo inédito com as quatro maiores montadoras do país. Esse pacto prevê que Fiat, Ford, General Motors (GM) e Volkswagen sejam parceiras da entidade na distribuição de cartilhas que promovem o uso do etanol como combustível. O informativo ; anexado ao manual dos carros bicombustíveis ;, explicará que além de mais barato, o etanol é um combustível ecologicamente mais justo do que seus concorrentes.