Jornal Correio Braziliense

Economia

Redução nas viagens trazida pela crise financeira mundial afeta as companhias brasileiras

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O horizonte para as companhias aéreas não está nada favorável este ano. Em cenário de crise internacional, cai o número de viagens nacionais e internacionais, a lazer e também no mercado corporativo. Com a redução do número de viagens, a concorrência entre as empresas pelo consumidor fica ainda mais acirrada. A entrada da Azul, em dezembro passado, no ápice da turbulência mundial, deixou a situação ainda mais crítica para as companhias que já atuavam no mercado. E quem mais sentiu o impacto foi a Gol, que perdeu quase três pontos percentuais de participação no mercado de dezembro de 2008 a março deste ano, conforme análise feita pelo Correio a partir dos dados divulgados mensalmente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ao longo de 2008, a fatia da Gol no mercado de aviação ficou praticamente estável até junho, na casa dos 37%, 38%, registrando apenas pequenas oscilações. Em julho, levou um tombo para 35,33%, chegando ao fundo do poço em agosto, com 34,13%, mas voltou a registrar crescimento em setembro. A partir de outubro, quando foi dado o aval oficial para a absorção das operações da Varig, a Gol ganhou fôlego até dezembro, mas em seguida os índices ingressaram em períodos consecutivos de retração consecutivos. Sua maior concorrente, a TAM, se manteve como líder do mercado com índices em torno de 48% a 50%, atingiu o topo máximo em agosto, com 54,18%, e a partir de dezembro manteve-se na casa dos 49%. A Ocean Air perdeu muito mercado de janeiro a junho de 2008, despencando de 4,64% para 1,63%, voltou a crescer em julho e depois entrou num período de estabilização, com participação entre 2,5% e 3%. A Webjet, por sua vez, registrou índices praticamente estáveis até abril, na casa de 1,5%, experimentou um período de crescimento a partir de maio, registrando recorde de 3,67% em janeiro, com 4,33%, e está se mantendo no patamar de 3,8%. A Azul, está em franca ascensão. Vantagens Rotas e estruturas mais robustas fizeram a TAM levar vantagem nesse período, na visão de Amarylis Romano, analista do setor de aviação da consultoria Tendências. ;Pela ótica de mercado, a Gol deveria estar melhor porque, apesar de não ser de fato uma empresa low cost (custo baixo), tem uma ou outra oferta mais agressiva, focando na população de renda média baixa. Mas há quem diga que a incorporação da Varig foi um problema da Gol, sem falar do aumento do custo de combustível e do dólar;, analisa. ;Se olharmos para as linhas internacionais, a Gol perdeu muito mais, caindo de 80% para menos de 68,7%;, ressalta. A especialista pondera que não dá para dizer que esse será o comportamento do mercado. ;A minha visão é que tem espaço para todo mundo, mas para as companhias menores, o cenário vai depender, fundamentalmente, do crédito e da massa de rendimentos. Quem tem conseguido vender passagens parceladas vai crescer, mas devem se manter como empresas satélites;, explica. Simone Escudêro, diretora de Projetos e Estudos de Mercado da All Consulting, observa que, como a TAM é a única companhia com rotas internacionais fora da América Latina, ela acaba tendo um público diferenciado. O mercado como um todo também tem perdido passageiros por vários problemas nos últimos anos. ;Houve os acidentes da TAM e da Gol, a greve dos controladores e o caos nos aeroportos. Isso inibe o mercado, pois muita gente deixou de viajar de avião. Em 2008, também tivemos um ano com poucos feriados prolongados e o petróleo nas alturas, o que impacta diretamente no querosene que abastece as aeronaves. Quando começou a melhorar a situação nos aeroportos, com voos sem atrasos, veio a crise internacional e a entrada da Azul;, comenta. Simone Escudêro analisa que a estreante está muito agressiva, assim como a Gol, no início de suas operações, oferecendo tarifas com até 75% de desconto. ;A Gol passou a se adequar ao serviço de bordo com patrocínios, enquanto a TAM está mais focada em outro público. No começo, entrávamos numa aeronave da Gol e não sentíamos diferença em relação à TAM. Hoje, já se sente;, diz. Análise da Link Investimentos aponta que, por estar numa posição intermediária entre TAM e Azul, Webjet e Ocean Air, a Gol está numa situação mais vulnerável. Assim, a Gol sofre com queda na demanda e com a concorrência das companhias menores, que focam em passageiros que viajam de ônibus e priorizam o preço da passagem. Simone Escudêro observa que o setor é muito suscetível. ;A gripe suína vai afetar o setor.Um acidente aéreo também afeta. Foi isso que tirou a BRA do mercado. A mais fraca era a Varig, mas a BRA era a que não se consolidou;, explica. ;Acho que qualquer problema que houver no mercado afeta mais as aéreas menores e a Azul;, conclui. Promoções atraem clientes Há quem diga que esse é o ano do consumidor. As sucessivas promoções das companhias aéreas para laçar passageiros na baixa temporada não deixam mentir. O grande número de feriados prolongados dão um impulso a mais. ;Como a concorrência é muito acirrada, as redes hoteleiras estão fazendo promoções com as companhias aéreas. Está atraindo até pessoas que nem estavam pensando em viajar. A estratégia é reduzir as tarifas, em busca de uma taxa de ocupação maior;, afirma Simone Escudêro, diretora de Projetos e Estudos de Mercado da All Consulting. ;A Gol, por exemplo, faz leilão de passagem toda terça-feira. A TAM também está reduzindo as tarifas às quartas-feiras;, observa. Também está virando prática das companhias fazer promoções de bilhetes nos fins de semana. O programa de fidelidade da TAM, que completou 15 anos, dava certa vantagem à companhia. Agora, com a integração do programa Smiles da Varig, a vantagem é menor. ;As aéreas estão aproveitando a baixa temporada para distribuir prêmios de fidelidade. Hoje, é possível viajar com 2 mil a 3 mil milhas por trecho;, comenta Simone Escudêro. A pontuação padrão para conseguir um bilhete sem ônus é 10 mil milhas por trecho. ;Tudo está sendo válido para conquistar o consumidor;, reforça. A especialista observa que o cenário está favorável para esse tipo de estratégia. ;Hoje o dólar está em um patamar razoável, conseguindo atrair para o país o turismo receptivo;, analisa. Foco Renato Pascowitch, diretor-executivo da Ocean Air, explica que a companhia passou por um processo de restruturação em março de 2008, concentrando a malha aérea e unificando a frota para redução de custos. ; Antes, fazíamos voos internacionais e voos regionais. Em maio tivemos 1,64% de participação e, desse período para cá, praticamente dobramos nossa participação no mercado, alcançando 3,06% em março. Crescemos 100 mil assentos;, ressalta. O executivo destaca a pontualidade como um dos diferenciais da companhia. ;De julho para cá, somos a companhia mais pontual;, garante. Pascowitch pondera que a empresa tem buscado diferenciais. A TAM, por meio de nota, informou que sua estratégia para manter a liderança de mercado está baseada na ampliação de três pilares de excelência: serviços, técnico-operacional e gestão. A companhia informou que realiza promoções, especialmente em momentos de baixa demanda, mas ressaltou que ;numa crise, não é só promoção que é importante. Gestão competente, qualidade, controle de custos e manutenção de investimentos também resultam em benefícios para os passageiros;. A Gol não se pronunciou porque está em período de silêncio devido à divulgação de resultados relativos ao primeiro trimestre este mês. Procuradas, Webjet e Azul não se pronunciaram até o fechamento da edição.