O grupo Fiat e mais 11 empresas instaladas no entorno da montadora italiana em Betim (MG), fornecedoras de autopeças, anunciaram que desde meados de março estão contratando trabalhadores e deverão encerrar abril com cerca de 1.200 admissões e recontratações feitas em 45 dias. Ao menos 1.019 desses trabalhadores estarão no grupo Fiat.
Essas empresas, porém, não aceitaram renovar os acordos de estabilidade no emprego que vigoram desde janeiro. O representante do grupo Fiat na negociação ocorrida hoje com o sindicato dos metalúrgicos de Betim e região, Adauto Duarte, disse à Folha que não há motivo para se discutir estabilidade neste momento que o setor voltou a contratar. "O momento já é outro", afirmou.
A Fiat Automóveis, FPT Powertrain e Comau, as três empresas do grupo na negociação, firmaram com o sindicato um acordo coletivo de trabalho no qual informam terem feito de março até ontem 742 contratações e se comprometeram a contratar mais "no mínimo 380 trabalhadores metalúrgicos ainda no mês de abril".
Com as contratações que as 11 autopeças também farão, Duarte estima entre 1,2 mil e 1,3 mil os contratados e recontratados.
Para o sindicato, o número ainda é pequeno diante dos "quase 3 mil demitidos apenas no setor automotivo" da base do sindicato de Betim e região, entre setembro e janeiro, conforme disse o presidente do sindicato, Marcelino da Rocha.
Entretanto, os números fornecidos por ele são totalmente discrepantes em relação ao que foi anunciado pela Fiat.
Ao participar de um seminário nesta quarta-feira sobre a crise, em Belo Horizonte, o presidente do grupo Fiat na América Latina, Cledorvino Belini, disse: "Nós não demitimos". Duarte disse à Folha que os cortes na montadora foram apenas de trabalhadores com contrato de experiência de 90 dias, o que envolve cerca de cem pessoas. "Portanto, a Fiat está admitindo, não recontratando." A Fiat em Betim produzia até setembro do ano passado 3.000 carros por dia. Agora produz 2.600 e, com as contratações, chegará a 2.800, segundo Belini. Alguns setores operam em três turnos.
Com o aquecimento do setor, que teve o melhor trimestre da sua história entre janeiro e março últimos, e apesar das novas contratações, os 14,5 mil trabalhadores da montadora deverão fazer hora extra, motivo também do acordo coletivo assinado hoje com o sindicato. A Fiat se comprometeu a pagar pelas horas extras, independentemente do banco de horas que cresceu com a produção paralisada ou reduzida no final do ano passado.
Belini disse que a produção ainda não está no nível pré-crise porque, embora o mercado interno esteja "vigoroso", as exportações não recuperaram.