Os investidores reagiram com euforia ao pacote do Tesouro americano para "limpar" os bancos dos chamados "ativos tóxicos" (créditos problemáticos), mobilizando pelo menos US$ 500 bilhões. As Bolsas dos EUA, no epicentro da crise, dispararam após de anúncio, puxando a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), onde investidores estrangeiros movimentam mais de um terço do giro diário. A taxa de câmbio doméstico recuou para R$ 2,24.
A autoridade americana também esclareceu que vai utilizar leilões, e a parceria com investidores privados, para colocar preço nos "ativos tóxicos", justamente uma das principais dúvidas do mercado financeiro. Com a forte valorização de hoje, a Bolsa brasileira acumula ganhos de 11,14% neste mês, enquanto o dólar tem perdas de 5,23%.
O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa paulista, disparou 5,89% no fechamento, uma alta não vista desde o início de janeiro. O indicador encerrou o dia aos 42.438 pontos, o maior desde o dia de 6 de fevereiro. Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou em alta de 6,84%.
O economista da Máxima Asset Management, Felipe Casotti, afirma que o pacote foi muito bem recebido pelo mercado e cita como um dos possíveis motivos as condições atrativas para os investidores privados. "O pacote apresenta para o investidor privado uma relação muito boa entre risco e retorno. Se os preços dos ativos caírem muito, o governo pode entrar com mais garantias", comenta. "Do ponto de vista do investidor, o governo montou um pacote muito atraente. O problema é que do ponto de vista do contribuinte, pode ter um custo bastante alto", acrescenta.
O pacote prevê que investidores privados e bancos negociem preços, por meio de leilões, para os créditos problemáticos que hoje sobrecarregam as instituições financeiras. "O problema é que ninguém garante que esses preços não caiam ainda mais e todo o pacote pode ter um custo muito alto", avalia.
Casotti também está preocupado com "o lado real" da economia: o setor imobiliário, justamente a origem dos créditos "subprime" que precipitaram a pior crise global em 70 anos. "Nós ainda temos que ver como vai se evoluir o mercado imobiliário, que é o centro de tudo. E se a taxa de inadimplência continuar a subir muito? Não adianta nada agir no mercado de ativos financeiros se o setor imobiliário continuar muito ruim", comenta.
PIB brasileiro
Entre outras notícias importantes do dia, o boletim Focus, do Banco Central, mostrou que a maioria dos economistas do setor financeiro já espera que a economia brasileira fique estagnada neste ano: as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas de um país) retraíram de 0,59% para 0,01% nas duas últimas semanas.
O governo brasileiro ainda comunicou que a balança comercial do país teve superávit de US$ 1,04 bilhão nas três primeiras semanas de março, um aumento de 40,5% se comparado com o desempenho registrado no mesmo período de 2008.
A Eurostat, a agência europeia de estatísticas, informou que o déficit comercial da zona do euro atingiu 10,5 bilhões de euros (US$ 14,3 bilhões) em janeiro deste ano, o que é 5,4% inferior ao saldo negativo registrado em idêntico mês do ano passado. Os dados ainda são preliminares.