Se o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) pudesse voltar a 1990, não bloquearia os recursos na poupança, medida que adotou para conter a inflação. "Não faria, jamais, um programa econômico que causasse tanto desassossego como causou", disse nesta quarta-feira (18/03), durante entrevista à TV Brasil.
Em tom de penitência, culpou o seu "equívoco" à ânsia de fazer as coisas se resolverem de forma rápida, por meio de medidas provisórias, como aconteceu no caso do Plano Collor. No entanto não classificou sua providência como confisco, argumentando que isso pressupõe "tomar de alguém e não devolver". "O que houve foi um bloqueio dos ativos, atingimos inclusive as contas correntes de pessoas." Na época, o governo permitiu o saque, de conta corrente ou poupança, apenas do equivalente a US$ 1.300 (cerca de R$ 2.700, hoje).
Dos muitos erros que disse ter cometido na Presidência, que acabaram o empurrando para fora do governo, ele aponta falta de diálogo com a classe política como o mais grave.
"Não me preocupei muito em consolidar uma base de sustentação [no Congresso Nacional]", disse o senador, colocando o presidente Lula e sua "base muito sólida" como contraponto à sua posição. Collor hoje é presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado - cabe a ela, por exemplo, fiscalizar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O senador comentou que, ao assumir a Presidência, apresentou seu programa de governo no Congresso sem tocar na questão do bloqueio da poupança. Alguns dos aliados pediram que atuasse com menos medidas provisórias, para que o Congresso participasse aprovando projetos de lei.
Collor justificou seu pouco esforço no Congresso dizendo que acreditava na fidelidade do Legislativo. "Um presidente eleito com a força do voto direto teria naturalmente o apoio da Casa legislativa, que ficaria no aguardo das medidas, tendendo a apoiá-las."