Levantamento divulgado nesta quarta-feira (4/03) em comemoração ao Dia Internacional da Mulher mostra que as brasilienses estão mais inseridas no mercado de trabalho e têm salários maiores que as moradoras de outras regiões metropolitanas brasileiras. Por outro lado, no entanto, as diferenças em relação aos trabalhadores do sexo masculino estão ainda mais gritantes. No próximo dia 8, quando será festejada a data, elas poderão comemorar uma facilidade maior para entrar no mercado que as mulheres de outras capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
De cada 10 trabalhadoras da capital federal com mais de 10 anos, seis entram para o grupo da População Economicamente Ativa (PEA) ; estão ocupadas ou procurando uma vaga. O percentual masculino é de 71,4%. Nas outras cinco regiões metropolitanas pesquisadas pelo Dieese, a participação delas não passa de 56,4%, índice de São Paulo. Os salários também são bem maiores. No DF, a média paga às ocupadas é de R$ 8,36 por hora. Entre as outras cidades o valor varia de R$ 3,44, pago em Recife, a R$ 5,76, média paulistana.
Apesar das trabalhadoras brasilienses estarem em melhor situação que as de outras capitais, é cada vez maior o abismo em relação aos homens. Nos últimos anos, o desemprego caiu mais para eles que para elas, enquanto a renda deles subiu em ritmo mais acelerado. O desemprego feminino no DF em 2008 foi de 19,8% da PEA. O masculino, de 13,4%. Desde 2003 o índice caiu 6,8 pontos percentuais no caso dos homens e em velocidade menor no caso das mulheres ; no período diminuiu 5,9 pontos percentuais.
Esse descompasso, como ressalta o documento, resultou na maior diferença relativa entre as taxas de desemprego masculina e feminina desde que a Pesquisa de Emprego e Desemprego começou a ser feita, em 1992. A distância salarial entre os dois sexos também aumentou. Em 2007, as mulheres ganhavam, em média, 76,9% do salário deles. No ano passado, o volume caiu para 76,5%. ;A inserção delas ainda é de pior qualidade que a dos homens;, afirma o economista do Dieese Tiago Oliveira.
Apesar de terem a mesma escolaridade ; o ensino médio ;, a balconista Célia Gomes Lima, de 30 anos, ganha cerca de 60% do que recebe seu marido, que trabalha na mesma lanchonete. Mas o problema, conta ela, não é nem o salário, é a tripla jornada a que precisa se submeter. Todos os dias acorda às 3h30 para chegar ao trabalho às 5h30. Quando volta para casa em Planaltina de Goiás, no meio da tarde, ela ainda precisa cuidar das duas filhas, ajudar nos deveres da escola e limpar a casa. ;É tanta coisa para fazer que só consigo parar de trabalhar às nove da noite, quando tenho que dormir para acordar cedo no dia seguinte;, conta.
O estudo mostra ainda que as brasilienses solteiras com filhos são as que enfrentam as piores condições no mercado de trabalho, por estarem mais dispostas a aceitar empregos menos qualificados, de acordo com Oliveira. Em média, recebem R$ 9,35 por hora trabalhada. Já as mulheres casadas com filhos ganham R$ 9,42. A renda sobe para as casadas sem filhos, que, de acordo com a pesquisa ganham, em média, R$ 9,60, e é ainda maior entre as que moram sozinhas ; R$ 12,05. Aos 42 anos sem nunca ter se casado, a artesã Margareth Sabóia, mãe de um jovem de 20 anos, sabe o que é sustentar uma casa e um filho sozinha. ;Saí de casa aos 14 anos para trabalhar e, desde então, aceitei vagas com salários mais baixos porque precisava trabalhar. Só agora, há quatro anos, comecei a realmente fazer o que gosto;, conta.