O mercado deixou de lado, pelo menos nesta quarta-feira (4/03), o pessimismo com a economia global para se render a um "entusiasmo" com a possibilidade de um pacote anticrise na China, que pode ser detalhado amanhã. A reboque do bom humor mundial, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) zerou as perdas acumuladas deste ano, enquanto o câmbio recuou para R$ 2,37.
"Foram vários fatores que ajudaram as bolsas hoje. Tem esse pacote da China, mas há ainda o plano do (Barack) Obama para ajudar os mutuários; e a própria disposição, sinalizada ontem, do Fed (Fed, o banco central dos EUA) e do Tesouro em fazer novos aportes para evitar mais quebras de bancos", comenta João Carlos Reis, diretor da tesouraria da corretora Prime. "Não podemos esquecer que hoje também houve um pouco de correção das perdas passadas. E mesmo assim, o (índice) Dow Jones não conseguiu recuperar aquele nível psicológico dos 7 mil pontos", acrescenta.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, disparou 5,31% no fechamento, alcançando os 38.402 pontos. O giro financeiro foi de R$ 4,72 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou com avanço de 2,23%, aos 6.875 pontos.
'Efeito China'
Os papéis da Vale do Rio Doce foram as mais beneficiadas pelo "efeito China", já que o país é um dos grandes consumidores globais das commodities metálicas. A ação preferencial da mineradora brasileira, que sozinha movimentou R$ 812 milhões, disparou 9,68%.
Outro papel bastante influente da Bolsa brasileira, a ação preferencial da Petrobras, também subiu com força: 6,33%, girando mais de R$ 1 bilhão, favorecida pela boa alta dos preços do petróleo, que atingiu US$ 45 na praça de Nova York.
O dólar comercial foi vendido por R$ 2,370, o que representa um decréscimo de 1,70% sobre a cotação de ontem. A taxa de risco-país marca 429 pontos, número 3,59% abaixo da pontuação anterior. "Vai ser a partir de amanhã que nós devemos ter uma definição, de verdade, da tendência do mercado", avalia Paulo Prestes, operador da corretora gaúcha Exim. Mas mesmo com o relativo otimismo sobre o pacote asiático, o profissional não descarta um novo repique (para cima) das cotações ainda nesta semana: "a economia americana ainda está muito ruim", teme ele.
Mais dinheiro para socorrer a economia
Os números mais recentes das economias centrais, combinados com balanços desastrosos de algumas grandes empresas, haviam derrubado o moral dos investidores para voltar às compras. As primeiras notícias positivas, portanto, deram a senha para um dia de "trégua" na crise.
O mercado gostou da notícia de que o nível de atividade do setor manufatureiro chinês subiu em fevereiro, conforme leitura do indicador PMI. Amanhã, o Congresso Nacional do Povo da China inicia os trabalhos deste ano e há a expectativa de que ocorra o anúncio de um pacote de medidas fiscais para estimular a economia local, a terceira maior do planeta. O premier Wen Jiabao já anunciou na semana passada a intenção de "ajudar o mundo a sair da crise mundial". Também ajudou a melhorar os ânimos do mercado o programa do governo americano de US$ 75 bilhões, para ajudar mutuários em atraso, de modo a evitar uma onda maciça de despejos.
O relativo otimismo dos investidores ajudou a superar uma nova rodada de más notícias da economia europeia e americana. Na Europa, o nível de atividade do setor de serviços na zona do euro caiu, segundo leitura da empresa de pesquisas Markit. Os piores resultados foram verificados na Alemanha, França, Itália e Espanha, algumas das economias mais poderosas do continente.
Nos EUA, os números não foram melhores: a consultoria de recursos humanos ADP Employer Services reportou que o setor privado da economia americana perdeu 697 mil empregos em fevereiro. E a entidade privada Instituto de Gestão de Oferta (ISM, na sigla em inglês) apontou que o nível de atividade do setor de serviço piorou pelo quinto mês consecutivo.