O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) defende um corte na taxa básica de juros dos atuais 12,75% ao ano para 7% ao ano até outubro para que o governo possa aumentar os seus gastos neste ano para enfrentar a crise econômica.
De acordo com o instituto, um corte nessa magnitude reduziria as despesas do governo federal com juros em R$ 30 bilhões. Esse valor supera a queda na arrecadação prevista para este ano, de R$ 25 bilhões.
A previsão de queda dos juros leva em conta as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Seriam cinco cortes de 1 ponto percentual, começando na reunião da próxima quarta-feira (11). Depois, haveria ainda um corte de mais 0,75 ponto na reunião de outubro.
O Copom se reúne a cada 45 dias, aproximadamente. Na primeira reunião deste ano, no final de janeiro, os juros caíram de 13,75% ao ano para 12,75% ao ano. Foi o maior corte em cinco anos.
Para a próxima semana, o mercado financeiro já espera um corte de mais 1 ponto percentual. Os economistas projetam, no entanto, que a taxa básica vá terminar 2009 em 10,25% ao ano. Se confirmada essa previsão, a economia com o pagamento de juros ficaria em torno de R$ 20 bilhões.
Inflação
Os cálculos do Ipea não consideram o efeito do corte de juros sobre a inflação. Isso porque, para o instituto, os juros não terão impacto sobre os preços.
"Nesse ano, juros não têm nenhuma relação com crescimento e, portanto, não têm nenhuma relação com inflação. Só é possível ter relação entre juros e inflação quando se tem crescimento", disse o diretor do Ipea João Sicsú. "Se a inflação voltar a crescer, pode ser que ela volte à pauta de discussões."
Ranking dos juros
Com juros de 7% ao ano, o Brasil sairia da posição de segunda maior taxa de juros do mundo, atrás apenas da Islândia (18% ao ano) e cairia para a sétima posição. Isso, se não houver cortes de juros, nesse período, em países como Turquia, Egito, África do Sul e Hungria.
Segundo o Ipea, a taxa média de juros ficaria em 9,85% ao ano ao longo de 2009. Descontando uma inflação de 4,5% (meta do governo para esse ano), o Brasil ficaria com uma taxa real de juros de 5,35%.
O cálculo para a taxa real não considera um possível aumento da inflação devido à queda dos juros. Hoje, o mercado financeiro projeta uma inflação de 4,6% para um juro de 10,25% no final de 2009.
Gasto social
De acordo com o diretor do Ipea, o medo em relação à crise econômica levou empresários e trabalhadores a cortarem seus gastos e investimentos neste ano. Por isso, o aumento dos gastos do governo é o único instrumento de combate à crise que pode ser utilizar.
O Ipea avalia que o governo não pode, sozinho, substituir o investimento privado. O gasto público serviria, no entanto, para estimular o setor privado. Nesse caso, os gastos teriam de ser direcionados para investimentos e para a área social, e não com juros.
"Se está havendo queda na arrecadação, devemos cortar gastos. O gasto que tem de ser cortado é aquele que não impacto tão significativo sobre o emprego e a renda", afirmou.
Para o Ipea, o aumento de gastos do governo, combinado com o corte de juros, não vai prejudicar as contas públicas, que continuarão em "patamares aceitáveis", mesmo que fora da meta do governo.
Esse patamar aceitável seria, segundo Sicsú, seria aumentar o déficit nas contas públicas para até 3% do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país), praticamente o dobro do registrado no ano passado.