Mesmo com juros e spread em queda, a inadimplência no sistema financeiro deu um salto em janeiro. Segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central, o calote das pessoas físicas passou de 8% em dezembro para 8,3% em janeiro, mês de forte aumento do desemprego (leia mais na página 12). A elevação foi puxada pelo financiamento de veículos, cuja taxa subiu de 4,5% em dezembro de 2008 para 4,7% em janeiro de 2009, o percentual mais elevado da série histórica iniciada em 2000. A inadimplência total, que também leva em conta o atraso no pagamento do crédito por parte das empresas, atingiu 4,6% em janeiro, o índice mais alto desde agosto de 2007.
;Não é nada de excepcional; , declarou o chefe do departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, buscando acalmar os ânimos. Ele explicou que a alta da inadimplência é sazonal, que sempre acontece nesta época do ano, quando o orçamento familiar está mais comprometido com despesas extras, como o pagamento de tributos e volta às aulas. Para provar o que disse, Lopes citou os dados do ano anterior, quando o atraso no pagamento do crédito nos bancos também subiu.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem a mesma opinião. Disse que não viu nenhuma superalta no índice. ;Vi uma pequena elevação;, ponderou. Mantega considerou ;normal; o aumento da inadimplência nos meses de janeiro e fevereiro devido a concentração de vencimentos como o IPTU e o IPVA (leia mais sobre IPVA na página 20). ;Mas isso não significa nenhuma deterioração importante na economia brasileira;, disse. Mantega afirmou ainda que os bancos estão sendo pessimistas nas previsões de inadimplência, o que acaba inibindo a expansão do crédito e, ao mesmo tempo, elevando antecipadamente o spread bancário (diferença entre a taxa que o banco paga para captar recursos da que ele cobra de seus clientes).
;A inadimplência acaba sendo menor do que aquilo que foi previsto, só que eles (bancos) já cobraram o spread(bancário) maior por causa disso;, explicou. O ministro demonstrou insatisfação com o atual volume de crédito colocado à disposição dos clientes pelos bancos. ;Os bancos estão emprestando de menos para o meu gosto. Deveriam estar emprestando mais e deveriam estar baixando os juros mais do que estão;, acrescentou.
Com relação à elevação da inadimplência no pagamento do crédito destinado à aquisição de veículos, o chefe do Depec explicou que a causa está diretamente ligada ao ;envelhecimento da carteira;. De acordo com Lopes os clientes têm optado, nos últimos anos, pelo financiamento via leasing, cujo atraso não é computado pelo Banco Central. Sem novos financiamentos na carteira, a tendência, segundo Lopes, é de a inadimplência crescer, sem que isso signifique que novos consumidores estejam em atraso.
Juros
As taxas de juros e os spreads ; que podem ser traduzidos pelo lucro dos bancos nos financiamentos ; despencaram em janeiro juntamente com o volume de concessão de crédito no mês. A queda na taxa de juros foi generalizada para as pessoas físicas. Caíram os juros do cheque especial, crédito pessoal e aquisição de veículos. No total, a taxa baixou de 58,1% ao ano em dezembro de 2008 para 55,1% ao ano em janeiro.
Segundo Altamir Lopes, os juros caíram puxados pelo custo de captação mais baixo. ;Os bancos repassaram para os clientes esse custo final mais baixo e ainda reduziram o spread, ou seja, diminuíram a sua margem de lucro;, explicou. A situação das empresas foi diferente. Puxada pela operação conta garantida, uma modalidade de empréstimo cuja taxa de juros subiu 4,1 ponto percentual de um mês para o outro, as pessoas jurídicas acabaram pagando mais caro pelo dinheiro pego no banco em janeiro.
Em termos de volume de crédito, o estoque acumulado até cresceu, passando de R$ 1,227 trilhão em dezembro para R$ 1,229 trilhão em janeiro, um aumento de 0,2%. Esse pequeno percentual de aumento foi capaz de elevar a relação entre o volume de crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) para 41,2%, o mais alto da série. Mesmo assim, a velocidade de crescimento do crédito está mais lenta. Em 12 meses, já com a desaceleração provocada pela crise, o volume vinha crescendo 30%. Para 2009 o BC prevê crescimento de 16%, com a relação crédito/PIB atingindo 43%. (Colaborou Edna Simão)