A crise financeira vitimou muitos trabalhadores no país. Só em janeiro foram 102 mil demissões segundo o Ministério do Trabalho. Em alguns setores, no entanto, os números são positivos. A construção civil contratou 11,3 mil pessoas no mês passado em todo o Brasil. No Distrito Federal, a situação não é diferente. Os lançamentos de 2008 foram um sucesso. Com dinheiro em caixa, as empresas iniciam as obras. Para isso, profissionais estão sendo contratados em diversas empresas da região.
Isso sem falar nos novos lançamentos previstos para este semestre. A JC Gontijo, por exemplo, não quer nem ouvir falar em crise. A empresa tem planos ambiciosos e espera dobrar de tamanho em 2009. As expectativas giram em torno de um projeto previsto para os próximos meses, a superquadra Park Sul, ao lado do ParkShopping. Para essa obra, serão abertas 1,7 mil vagas. ;Se contarmos os empregos indiretos vamos criar 8,5 mil vagas apenas com esse empreendimento;, afirma Rodrigo Nogueira, sócio-diretor da empresa.
Segundo o executivo, é a primeira vez que a construtora contrata tanta gente de uma só vez. ;Em tempos de crise entendemos que toda empresa com oportunidade de negócios deve seguir em frente;, ensina. ;Estamos muito otimistas;, acrescenta Nogueira.
O empresário Lutfallah Farah, diretor executivo da construtora Luner, também quer surfar na onda da crise. Em abril, a empresa começará uma obra próxima à estação do metrô da Epia e contratará, inicialmente, 150 pessoas. O empreendimento terá um prédio de escritórios e lojas, dois hotéis e mais um edifício de salas comerciais. A intenção é estar com tudo pronto em 2012 e garantir que o empreendimento esteja em pleno funcionamento na Copa da Mundo de 2014. ;Olhamos para a crise, mas focamos no trabalho e torcemos para tudo dar certo;, diz Farah.
Carteira assinada
O bom momento da construção civil local beneficiou trabalhadores como Roberto Silva, 27 anos, e Sebastião Joaquim, 50 anos. Pela primeira vez na vida, Roberto teve a carteira de trabalho assinada. Ele foi contratado em janeiro para trabalhar como servente no shopping Iguatemi, da construtora Paulo Octavio. Para conquistar a vaga no canteiro de obras do Lago Norte, teve de viajar seis vezes de Taguatinga Norte, onde mora, até o local. O esforço valeu a pena e ele poderá oferecer à esposa e aos filhos uma qualidade de vida melhor. ;Quero comprar carnes e biscoitos para eles;, confessa. No futuro, Roberto espera que o salário ajude na troca de geladeira.
Sebastião tem uma história diferente de Roberto. Casado e pai de cinco filhos, trabalhou por nove anos na Paulo Octavio. Foi demitido por corte de custos e readmitido dois anos depois para a obra do Iguatemi. ;Tinha o sonho de voltar a trabalhar aqui;, revela. Os salários, por um bom tempo, vão tapar o buraco das dívidas, diz. ;Meu sonho é comprar meu lote. Espero que possa ficar na empresa até conseguir isso;, afirma.
Roberto e Sebastião são dois dos 200 funcionários contratados em janeiro pela Paulo Octavio, que emprega 3 mil pessoas. Neste ano, mais 300 vagas devem ser abertas. Os números, no entanto, podem subir muito de acordo com o andamento das obras. ;O setor da construção civil passará 2009 promovendo contratações para honrar os compromissos assumidos no ano passado;, afirma Marcelo Carvalho, diretor da Paulo Octavio. Segundo ele, as demissões nas empresas brasilienses podem ocorrer apenas em 2010, dependendo da quantidade de lançamentos deste ano.
Nas previsões de Fabrício Garzon, diretor da imobiliária MGarzon, as contratações não param esse ano. Só neste primeiro trimestre a empresa vai selecionar 60 novos corretores. ;Não estamos desanimados, trabalhamos em área com demanda grande e empreendimentos populares que não vão ser afetados pela crise;, afirma.
O número
Emprego
11,3 mil pessoas foram contratadas em 2008 na construção civil
Obras antecipadas
Passado o susto maior da crise, entre outubro e dezembro de 2008, quando as vendas caíram 40% , a Apex Engenharia está sendo obrigada a antecipar, para maio, dois empreendimentos previstos para serem lançados ao longo do segundo semestre. ;Quando a crise estourou, na segunda metade de setembro, imediatamente as vendas de imóveis pararam. Foi uma reação psicológica. Mas como em Brasília parte expressiva dos trabalhadores estão no setor público, muita gente se deu conta de que não será vítima do desemprego e voltou a comprar imóveis. Resultado: em janeiro de 2009 vendemos 10% a mais do que no mesmo mês do ano passado;, diz Eduardo Aroeira, diretor-executivo da Apex.
Para dar conta da demanda, a construtora foi obrigada a recontratar os 50 empregados que havia dispensado no fim de 2008 e já está recrutando outros 250 trabalhadores, que serão incorporados a seu quadro de pessoal até junho próximo. ;Esses trabalhadores serão importantes para que possamos tocar os dois empreendimentos a serem lançados em maio, um em Samambaia, outro em Ceilândia. Serão 300 unidades, que representam 80% de tudo o que lançamos no ano passado;, conta Aroeira.
Ele avisa que tanto o número de lançamentos quanto o total de contratações poderão aumentar, se o governo realmente botar na rua o prometido pacote para a construção de 500 mil imóveis neste ano e 500 mil em 2010. A medida beneficiará as famílias com renda até 10 salários mínimos mensais (R$ 4.650), justamente o público alvo da Apex Engenharia.(LN e VN)
Arrocho nos mercados
Da Redação
Reunidos em Berlim, na Alemanha, os líderes políticos das principais economias europeias chegaram ontem a um acordo sobre os pontos básicos de uma proposta de regulação do sistema financeiro internacional a ser apresentada no encontro do G-20, em Londres, em 2 de abril. Os chefes de governo e de Estado dos seis países europeus que participarão da cúpula (Alemanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Espanha e Holanda) vão sugerir o endurecimento das regras que regulamentam os mercados. Eles também defendem a elevação dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para US$ 500 bilhões, dinheiro necessário para ajudar nações com problemas momentâneos no pagamento dos compromissos externos.
;Todos os mercados, produtos e agentes financeiros ; incluindo os hedge funds (fundos de investimentos especulativos) e outros núcleos privados de capital que possam representar um risco sistêmico ; devem ser monitorados com a atenção apropriada e submetidos a uma dura regulação;, afirmaram os líderes no comunicado final. Implicitamente, eles reconheceram que a frouxidão nas regras do sistema financeiro nas economias avançadas está na raiz da crise. Além disso, o texto destaca a necessidade de punir os países que não colaboram com as investigações contra fraudes financeiras e os paraísos fiscais, locais em que a tributação sobre os investimentos e a renda é muito pequena ou mesmo inexistente.
;Queremos colocar um basta nos paraísos fiscais;, disse o presidente francês, Nicolas Sarkozy. A chanceler alemã, Angela Merkel, foi no mesmo tom: ;Queremos recuperar a confiança dos mercados e fundar uma nova ordem financeira internacional, sem pontos cegos no mapa-múndi;.
Nas estimativas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), existem cerca de US$ 7 trilhões depositados em paraísos fiscais pelo mundo. No coração da Europa, a Suíça é considerada o maior desses paraísos e recebe um terço dos depósitos, graças a uma tradição do país: o sigilo bancário. O governo alemão defende a inclusão da Suíça na ;lista negra; da OCDE das nações que não colaboram com a investigação de crimes financeiros.
Reforço no FMI
No comunicado oficial, os seis países defenderam o aumento em 100% dos fundos do FMI. ;Os recursos do FMI devem ser dobrados para lhe permitir ajudar rapidamente e de forma flexível seus membros em dificuldades;, assinala o texto. Isso elevaria o total a pelo menos US$ 500 bilhões. Antes do apelo dos europeus, o governo japonês já havia se disposto a aumentar a sua contribuição em US$ 100 bilhões. A justificativa é que os recursos podem acabar caso a crise se prolongue muito. Quatro países europeus já recorreram ao organismo: Letônia, Ucrânia, Hungria e Islândia. Os governos da Romênia e da Sérvia têm mantido entendimentos informais com as autoridades do fundo.
Os líderes europeus alertaram também contra o protecionismo. ;Para solucionar a crise a curto prazo, só tomaremos medidas que mantenham as distorções para a competição num mínimo absoluto, e esperamos que os outros Estados do G-20 se comportem da mesma forma;, indicaram. ;Além disso, nos absteremos de adotar qualquer medida protecionista e trabalharemos para alcançar um avanço das negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) num futuro próximo.;
O número
O aumento
US$ 500 bilhões
os recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI)