Sem descolar do cenário de pessimismo global, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) amargou forte queda no último pregão antes do Carnaval. As perdas foram puxadas pela forte desvalorização das ações da Vale, num contexto de aversão ao risco dos investidores. A falta de novidades sobre o plano dos EUA para sanear o sistema bancário não ajudou a melhorar os ânimos, em que as principais Bolsas de Valores, na Ásia, na Europa e nas Américas, operaram em terreno negativo. O câmbio alcançou R$ 2,39.
Na semana, a Bolsa acumulou retração de 7,1%, enquanto o preço da moeda americana ficou 5,65% mais alto.
O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa paulista, sofreu queda de 2,56%, recuando para os 38.714 pontos. O giro financeiro foi de R$ 3,99 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York retraiu 1,34%. Mais cedo, as Bolsas asiáticos e europeias já haviam fechado com perdas, a exemplo de Tóquio (baixa de 1,87%) e Londres (queda de 3,21%).
As ações preferenciais da Vale, alvo de R$ 818 milhões em negócios, desabaram 6,68% no pregão de hoje. Ontem à noite, a mineradora revelou lucro líquido de R$ 21,279 bilhões em 2008, com avanço de 6,36% sobre 2007. Embora os ganhos tenham ficado acima das projeções de alguns analistas, os primeiros relatórios sobre os balanços destacam a forte queda (28%) nas vendas de minério de ferro, num reflexo da recessão global. O banco americano de investimentos JP Morgan rebaixou sua recomendação para os papéis da empresa.
A equipe de analistas do banco ressaltou que a Vale já foi considerado um "porto seguro" para os investidores devido à perspectiva de recuperação dos preços das commodities (matérias-primas). No entanto, "os números do quarto trimestre da Vale sugerem que superestimamos as expectativas de ganhos para a companhia em 2009". Em um contexto de "uma crise global sem precedentes", a equipe de analistas sublinha que o balanço da empresa refletiu "fraquezas" tanto no segmento do minério de ferro quanto pelos minerais não-ferrosos.
O dólar comercial foi vendido por R$ 2,392, em alta de 1,70%. A taxa de risco-país marca 430 pontos, número 2,38% acima da pontuação anterior.
Entre as principais notícias do dia, o índice PMI, que reflete o nível de atividade dos países da zona do euro, caiu para o seu menor nível em fevereiro. O indicador teve uma leitura de 36,2 pontos, ante 38,3 em janeiro. Uma leitura abaixo de 50 pontos indica que a economia está em contração.
E a montadora sueca Saab, unidade da americana General Motors, apresentou declaração de insolvência. O governo sueco já rejeitou a proposta de nacionalização da empresa, que pode se fundir com a alemã Opel. Nos EUA, o índice de preços no CPI (varejo) apontou inflação de 0,3% em janeiro, revertendo a queda de 0,8% (dado revisado) registrada em dezembro. Trata-se da maior variação desde julho do ano passado (antes do início da fase mais aguda da crise), quando a taxa foi de 0,7%.
O investidor não encontrou melhores notícias no front doméstico: a taxa de desemprego atingiu 8,2% em janeiro, ante 6,8% no mês anterior. Na análise dos economistas Maristella Ansanelli e Flávio Mendes, do banco Fibra, o impacto da crise internacional no mercado brasileira de trabalho "deve acentuar ainda mais o fechamento de postos de trabalho nos próximos meses". "Estimamos que a taxa de desemprego medida pelo IBGE supere os 10% nos meses de março e abril", avaliam os economistas do Fibra.
E o Banco Central informou que o volume de investimento estrangeiro no país caiu 60% no mês de janeiro, para US$ 1,93 bilhão. Trata-se o pior resultado para um mês de janeiro desde 2006.
Ontem à noite, a Embraer surpreendeu ao anunciar a demissão de mais de 4.000 funcionários e a revisão de suas metas de receita, investimento e entregas de aeronaves, responsabilizando a crise mundial pelos ajustes. A ação ordinária da fabricante de aviões retraiu 7,21% no pregão desta sexta-feira.