A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) provocou uma corrida de clientes às lojas para aproveitar o benefício concedido pelo governo, que perdura até o fim de março. A procura é tão grande que, em alguns casos, o prazo para a entrega de determinados modelos chega a 45 dias. Esse cenário virou rotina em concessionárias de todo o país, mas no Distrito Federal (DF) é ainda mais evidente, já que a retomada das vendas de carros novos na capital no mês passado foi quase 13 vezes superior à média nacional. Enquanto o índice de aumento do número de unidades vendidas no país foi de 1,5% em janeiro, na comparação com dezembro, no DF foi de 19,27%.
;Na verdade, esse número é muito maior, pois nossos dados só computam o número de emplacamentos e muita gente já comprou o carro, mas ainda não recebeu;, informa Alessandro Soldi, diretor de pós-vendas do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do Distrito Federal (Sincodiv-DF). Ao confrontar o desempenho de janeiro deste ano com o mesmo mês de 2008, a situação de Brasília é ainda mais peculiar. O DF comemora vendas 11,16% superiores, ao passo que a situação geral do setor no país ainda amarga perdas de 8,1%. ;Brasília é uma cidade onde o poder aquisitivo é um dos maiores do país. Portanto, é normal que a retração de vendas durante a crise fosse menor e o ritmo de retomada, maior;, ressalta Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional de Veículos Automotores (Fenabrave).
;Como em dezembro as fábricas não produziram quase nada, muitas pessoas deixaram para comprar carro em janeiro e vários modelos de diversas marcas não estão disponíveis;, explica Alessandro Soldi. Aproveitando a redução do IPI, o empresário do ramo de restaurantes Ricardo Magalhães Poli comprou um Azera, da Hyundai. Ele pagou o carro à vista há duas semanas, mas ainda terá que esperar mais duas para usufruir a sua aquisição. ;Eu tinha um Bora 2008, mas como o preço baixou muito, resolvi trocar por um zero. Estou economizando uns R$ 15 mil;, conta.
Assim como Ricardo Poli, muitos consumidores ainda não levaram o automóvel zero para casa. ;Na Estação Fiat, temos mais de 280 vendas sem ter o carro no estoque;, afirma Alessandro Soldi, que também é diretor da Estação Fiat e da Saga, concessionária Volkswagen. Segundo ele, enquanto um Palio ou um Gol básicos levam cerca de uma semana para serem entregues, para o mesmo modelo com ar, direção hidráulica, travas e vidros elétricos, o prazo se alonga para 35 a 40 dias. ;Tem modelo que está demorando até 45 dias;, revela Soldi. Como em muitos casos existe o risco de o veículo só chegar depois do fim da redução do IPI, muitos clientes estão sendo orientados a abrir mão de alguns itens para garantir o desconto.
Pedido antecipado
A Olimpique, concessionária Peugeot, está fazendo pré-pedidos de modelos que estão em falta no estoque. ;Não aceitamos pagamento antecipado, pois não temos garantia se o carro sairá de fábrica com o benefício do IPI;, alerta Henrique Pacheco Gadelha, gerente de vendas da Olimpique. ;No nosso caso, a falta está bem espalhada. Vai desde o 206 Sensation, que é nosso carro de entrada, ao 207 Passion, que é um lançamento top;, diz.
Segundo Gadelha, o prazo máximo de espera é de 30 dias. Na Jorlan, concessionária GM, o prazo médio de entrega é de 35 dias. Segundo o gerente-comercial João Júnior, falta de Celta completo a utilitário Captiva. Na Slaviero, concessionária Ford, o prazo de entrega para o Ford Ka básico e Ecosport com câmbio automático é de 30 dias, segundo o diretor-comercial Antônio Cordeiro.
As montadoras garantem que não há falta generalizada de produtos, e sim desabastecimento de modelos específicos por causa das férias coletivas no fim do ano. ;Quando tem queda de produção, a tendência é vender carros compactos, populares. Esse é o segmento que tende a cair menos, mas mesmo assim, precisa de mais um mês para a produção se regularizar;, explica Rogelio Goldfarb, diretor de relações governamentais da Ford para a América do Sul.
Rodrigo Rumi, gerente-regional de marketing e vendas da General Motors no Brasil, observa que janeiro foi um mês de liquidação de veículos 08/09. A Fiat informou que lançamentos, como o Palio e Siena Fire e Adventure Locker, têm prazo maior de entrega.A Volkswagen informou que a falta de alguns modelos é consequência dos estoques baixos devido às férias coletivas.
Crédito para usados
A linha de R$ 4 bilhões liberada em novembro para financiar carros novos será estendida aos usados. Segundo o presidente da Nossa Caixa, Milton Santos, o acordo foi fechado com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e está em vigor. ;Ampliamos o escopo. Para vender carro novo é preciso fazer girar o mercado de usados;, disse. A linha, apesar de ser liberada pela instituição de São Paulo ; adquirida recentemente pelo Banco do Brasil ;, vale para os bancos e financeiras ligadas às montadoras de veículos em todo o país. Os financiamentos oferecidos são tomados direta e individualmente pelas instituições, com juros negociados caso a caso.
Segundo Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional de Veículos Automotores (Fenabrave), a liberação da linha de crédito para a venda de carros usados era um pleito da entidade. ;O banco vai operar com quem vende veículo, com o compromisso de que esse dinheiro seja utilizado para o financiamento de carros usados;, reforça. ;É isso que faz o mercado andar, e não dando capital de giro para as revendas;, ressaltou Reze, criticando a medida anunciada pelo governo esta semana de liberação de R$ 200 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para as revendas de usados. ;Esses R$ 200 milhões são um equívoco. Não é assim que se vende automóvel. O ministro (do trabalho Carlos Lupi) concedeu, mas o setor de revendas não pediu capital de giro. O que é necessário para movimentar esse mercado são boas taxas de financiamento, redução de IPVA;, pondera.
Sérgio Andrade, presidente da Associação das Agências de Automóveis do DF (Agenciauto), disse desconhecer a liberação da linha de crédito de R$ 4 bilhões para o setor de usados. Sobre os R$ 200 milhões provenientes do FAT, ele observou que o crédito fará com que a taxa de financiamento fique em torno de 1,4%, mas isso não resolve o problema. ;Em algumas concessionárias, há taxas de até 0,99% para carros usados;, diz. Sérgio Andrade também observa que o montante anunciado só beneficia mil das 42 mil revendas de usados no país. ;Só em Brasília são 620;, comenta. Segundo o Banco do Brasil, cerca de R$ 2 bilhões dos R$ 4 bilhões já foram liberados para os bancos das montadoras. Há outros pedidos em análise, mas a instituição não pode divulgar os valores.