A discussão sobre a possibilidade de deixar os bancos internacionais que estão passando por dificuldades financeiras quebrarem dominou um seminário realizado hoje na capital paulista. A alternativa foi citada pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp, e encontrou respaldo em José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus e professor da PUC-RJ, e em Eduardo Guardia, ex-secretário do Tesouro Nacional.
Para Belluzzo, em vez de nacionalizar, "é mais razoável" deixar os bancos que estão quebrados entrarem em falência e assim constituírem um novo sistema bancário, mais saudável, com apenas os chamados "bancos bons".
"Não adianta dar dinheiro para os bancos porque nenhum sabe a qualidade dos ativos dos outros bancos e, consequentemente, ninguém vai querer emprestar para ninguém", concordou Camargo. "Se esse cara tem muito ativo podre, de tal forma que está insolvente, ele vai falir", analisou.
A ideia, continuou Camargo, seria utilizar os recursos do Tesouro norte-americano não para salvar os bancos insolventes, mas para ajudar a capitalizar bancos saudáveis e "criar um sistema financeiro novinho em folha". Entretanto, Camargo ressaltou a integração do sistema financeiro mundial e afirmou que, se tal atitude fosse adotada nos EUA, deveria haver uma coordenação com os bancos europeus para evitar o risco de gerar uma corrida bancária na Europa. "Não consigo ver outra solução", afirmou. "Se continuarem tentando salvar os bancos que estão aí, vão passar 15 anos e não vão conseguir resolver o problema.
Guardia aceita a discussão dessa alternativa, mas destacou que não existe uma saída fácil para a situação atual. "Não se sabe onde esse processo vai parar e seu impacto sobre a economia real", apontou. Segundo ele, salvar os bancos é a alternativa menos arriscada, mas este caminho pode durar anos. Por outro lado, os riscos de deixar os bancos quebrarem são maiores.
"É impossível saber o custo de resolver o problema, qualquer que seja a solução", pontuou Camargo. Segundo ele, o custo de tentar salvar os bancos pode ser cavalar e esta saída pode levar até 20 anos para funcionar. Por outro lado, ele acredita que a falência dos bancos pode não gerar uma crise sistêmica se os agentes econômicos tiverem confiança no novo sistema bancário e financeiro a ser formado.
"Você tem de reativar o sistema de crédito para que a economia volte a rodar", enfatizou Belluzzo. Ele não acredita que a criação de um chamado "banco ruim", que assuma os ativos tóxicos dos bancos, possa resolver o problema porque não há como precificar os ativos. "Você pode precificar de uma maneira muito favorável aos bancos, de modo que você causa prejuízo aos contribuintes, ou você pode precificar de modo insuficiente, de modo que você não resolve o problema", ponderou.