Enquanto o presidente Lula cobrava ontem mais empenho de seu ministério para que o governo consiga botar na rua as esperadas medidas para combater os efeitos da crise mundial, uma leva de economistas chegava a uma triste constatação: o tombo que a economia brasileira sofreu no último trimestre de 2008 foi muito maior do que o registrado no mesmo período nos Estados Unidos, onde se originou a atual turbulência. Nas contas desses especialistas, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu entre 2% e 2,9% ante os três meses anteriores (julho a setembro) ; o número oficial será divulgado em 10 de março. Já nos EUA, a contração ficou em 0,94% (ou 3,8%, quando a taxa é anualizada). A queda do PIB do país também foi maior do que a verificada na Inglaterra, de 1,5%, e deverá superar a média mundial.
Segundo a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, há vários motivos para explicar o porquê de o PIB brasileiro ter recuado tanto no quarto trimestre do ano passado. Primeiro, os EUA já vinham em recessão desde o fim de 2007. Portanto, a queda que se viu no período foi mais uma de uma sequência. Segundo, a base de comparação da economia brasileira é muito alta. Entre julho e setembro, a demanda doméstica (consumo das famílias, consumo do governo e investimentos) tinha dado um salto de 9,3%. Terceiro, a produção parou e os estoque aumentaram violentamente, sobretudo no setor automotivo, cuja cadeia representa 14% da indústria. Para piorar, acrescentou Zeina, o crédito ficou restrito e caro, não respondendo às medidas adotadas pelo Banco Central para irrigar o sistema financeiro.
Emergentes
Para Vitória Saddi, economista da Consultoria RGE Monitor, com sede em Nova York, a retração do PIB brasileiro só deverá ser comparável ao encolhimento de países latinos, em especial os da Argentina e do México, que, ao que tudo indica, já estão em recessão. ;Nos nossos cálculos, as quedas dos PIB mexicano e argentino superaram os 2% no quarto trimestre de 2008;, frisou. O México, ressaltou Vitória, está sofrendo por ter sua economia muito dependente dos Estados Unidos, cuja recuperação não acontecerá antes de 2010. No caso da Argentina, a economia está em frangalhos por causa de política equivocadas do governo de Cristina Kirchner. ;Também acreditamos que o PIB do Chile ; país apontado como modelo na região ; será decepcionante;, frisou.
Até mesmo a China, uma das locomotivas do mundo, levou um tranco com a crise no último trimestre de 2008, apesar de não ter havido queda do PIB. A economista do RGE Monitor conta que seu chefe, o prestigiado Nouriel Roubini, que previu o estouro da bolha imobiliária americana e suas consequências para o mundo, projetou crescimento zero para a economia chinesa naquele período. Mas é importante destacar que a China, cuja expansão em todo o ano de 2008 bateu em 8%, não explicita os resultados trimestrais do PIB, como faz o Brasil. ;Mas que o baque na China foi considerável, isso foi;, frisou.
Na avaliação de Roberto Padovani, economista-chefe do Banco WestLB, tudo indica que o quarto trimestre de 2008 e os primeiros três meses deste ano serão o pior momento para a economia brasileira, que, tecnicamente, também está em recessão. ;A recuperação virá no segundo semestre, a ponto de o PIB fechar 2009 com crescimento de 2,1%;, destacou. A maioria do mercado, porém, aposta que o avanço final do PIB neste ano será menor, de 1,8%, conforme a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central. No mesmo levantamento, os analistas passaram a prever que a taxa básica de juros (Selic) chegará a dezembro em 10,75% ao ano ante os atuais 12,75%, devido à inflação menor (4,6%).
Aumento de 12% no seguro-desemprego
Entrou em vigor ontem o reajuste de 12% na tabela de pagamento do seguro-desemprego. Segundo o Ministério do Trabalho, o percentual corresponde ao aumento do salário mínimo, que passou de R$ 415,00 para R$ 465,00 desde 1º de fevereiro. Assim, o valor mínimo do auxílio ao desempregado passou para R$ 465,00 e o máximo, para R$ 870,01.
Todas as parcelas pagas a partir de 1º de fevereiro seguirão esses parâmetros, independentemente da data em que o trabalhador ingressou com seu pedido. Foram corrigidas também as faixas de enquadramento para o cálculo do valor do benefício, que depende do salário médio dos últimos três meses trabalhados. Quem ganhou na média até R$ 767,60 receberá 80% de seu salário médio. O trabalhador que recebeu um salário médio entre R$ 767,71 e R$ 1.279,46 receberá 50% do montante do salário médio que exceder os R$ 767,60, acrescido de um valor fixo de R$ 614,08. Quem ganhou na média mais do que R$ 1.279,46 recebe R$ 870,01.
O salário-desemprego é pago aos trabalhadores que comprovem no mínimo seis meses de vínculo empregatício. Se ele ficou empregado durante seis a 11 meses nos últimos 30, tem direito a três parcelas. Os trabalhadores que provam ter trabalhado entre 12 e 23 meses nos últimos 36 recebem quatro parcelas. Quem ficou empregado durante 24 meses nos últimos 36 tem direito a cinco parcelas.
Acordo
Em mais um acordo trabalhista, a fabricante de alarmes e antenas Olimpus, de São Paulo, e seus 200 empregados acertaram acordo de redução de 20% da jornada de trabalho e de 15% nos salários. Em troca, os trabalhadores terão estabilidade até 30 de setembro. Hoje, a CUT, a Associação Nacional dos Sindicatos da Micro e Pequena Indústria e o Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo anunciam um acordo visando a manutenção de empregos e salários dos trabalhadores do setor. Uma das propostas é criar um plano de renegociação de dívidas ou fazer com que o governo aceite reduzir tributos para o segmento. Em troca, as empresas se comprometeriam a preservar o número de empregos e o valor dos salários.
Ajuste na produção de carne
Natacha Pisarenko/AP - 29/11/07
O setor de carnes (foto) passa por readequações setoriais. Em Campo Grande, o frigorífico Independência suspendeu as atividades devido à necessidade de adaptação da produção de carne à disponibilidade de animais. De acordo com o frigorífico, a unidade de Campo Grande operava com 60% da capacidade instalada, nível inferior à média de outras plantas do grupo. A indústria estava em operação desde 2000 e tem capacidade de abate de mil cabeças por dia. Mesmo Mato Grosso do Sul sendo detentor do segundo maior rebanho do Brasil, o estado sofre com a falta de matéria-prima. Aliado a esse fator, o estado tem uma alta capacidade instalada para abate, fato que aumenta a concorrência entre os frigoríficos que atuam na região.