A forte valorização de 46% do dólar nos últimos três meses deverá desencadear uma onda de substituição de importações por produtos nacionais. Economistas e representantes do setor produtivo apontam uma redução entre 10% e 20% do volume de importações com o novo patamar do câmbio, acima de R$ 2. Isso significaria um ganho de até US$ 34 bilhões por ano para a indústria brasileira, conforme cálculos feitos com base nos últimos números da balança comercial.
Entre os produtos que mais deverão ser beneficiados estão insumos como papel, aço, tecidos, máquinas e equipamentos, pequenos eletrodomésticos, alimentos e brinquedos. "Em alguns casos a substituição de importação tende a ser imediata, como é o caso de alimentos e bebidas", avalia o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz.
Nos últimos anos, uma parte da indústria brasileira passou a funcionar como montadora. Empresas importavam componentes e montavam no País, critica o professor da Unicamp Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Mesmo em setores nos quais o Brasil tem maior tradição, como o de equipamentos para hidrelétricas, os produtos estrangeiros ganharam espaço. "Com a queda do dólar, estava mais barato comprar algumas peças no exterior e montar aqui", diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Humberto Barbato.