A Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) encerrou o último pregão de 2008 em terreno positivo, virando o primeiro mês com valorização, após seis meses de perdas consecutivas. A alta da Bolsa foi sustentada por um cenário externo mais positivo, mas o pregão foi caracterizado pelo volume bastante magro de negócios. O câmbio desabou para R$ 2,33, com duas intervenções do Banco Central.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, subiu 1,32% no fechamento, atingindo os 37.550 pontos. O giro financeiro foi de R$ 2,6 bilhões.
No acumulado deste ano, a Bovespa amargou retração de 41,22%. No mês, o ganho registrado foi de 2,61%.
Segundo levantamento da consultoria Economática, trata-se da pior queda anual da Bolsa desde 1972, quando o índice Ibovespa retraiu 44,42%. O dólar comercial foi negociado a R$ 2,334 para venda, o que representa um decréscimo de 3,35%. A taxa de risco-país marca 426 pontos, número 1,61% abaixo da pontuação anterior.
No acumulado deste ano, a taxa de câmbio apresenta valorização de 31,34%, enquanto no mês, o avanço é de 9,32%.
O Banco Central agiu por duas vezes no mercado de moeda. Pela manhã, realizou os leilões já programados de venda de dólares com recompra programada para 2009. O BC, no entanto, somente aceitou quatro propostas, no montante total de US$ 530 milhões. Mais tarde, às 15h10, o BC vendeu dólares (com queima de reservas) e aceitou ofertas por R$ 2,3290 (taxa de corte). Nesta operação, o órgão não informa o montante negociado.
O mês de dezembro tipicamente é positivo para a Bolsa de Valores, devido ao já tradicional "rali" de final de ano, quando grandes gestores de recursos puxam os preços para "garantir" que as carteiras administradas tenham rendimento positivo no encerramento do período. Esse "rali" foi sustentada ainda pela relativa calma do mercado após os meses de pânico e nervosismo entre setembro e novembro, quando muitas ações tiveram os preços depreciados e o capital estrangeiro fugiu da Bolsa.
A perspectiva de um novo mandário nos EUA, epicentro da crise, trazendo mudanças na gestão da política econômica, bem com a expectativa pelo retorno de parte dos recursos externos, ainda no primeiro trimestre, ajudou a melhorar o humor dos investidores nas últimas semanas.
Por outro lado, muitos analistas temem pelo desempenho da economia doméstica no primeiro trimestre do ano. "Nós esperamos que o crescimento do PIB [do Brasil] caia para 2,8% em 2009, ante 5,2% em 2008, devido a uma desaceleração no volume de investimentos, associado a condições de crédito mais apertadas, a uma confiança mais estremecida na economia, além de uma contribuição negativa do setor de exportações, em meio a uma desaquecimento mais acentuado da economia mundial", comentam os analistas Eduardo Loyolo, Claudio Ferraz, Marcos Mollica e Alvaro Vivanco, em relatório do banco de investimentos UBS sobre as perspectivas para as economias emergentes.
Hoje, o mercado repercutiu bem a notícia, divulgada ontem à noite, de que o governo americano vai ajudar, com US$ 5 bilhões, a GMAC, o braço financeiro da montadora de veículos General Motors. A salvação da financeira da GMAC é considerada por analistas um fator primordial para a sobrevivência da General Motors. O bom humor de final de ano também contribuiu para que os investidores não cedessem à bateria de más notícias da economia americana divulgadas hoje: os preços dos imóveis nos EUA tiveram sua pior queda em oito anos; e os níveis de confiança do consumidor americana foram os piores desde 1967.
No front doméstico, a FGV (Fundação Getúlio Vargas) informou que o ICI (Índice de Confiança da Indústria) atingiu seu ponto mais baixo desde outubro de 1998. E nas previsões para os meses seguintes, houve aumento da proporção de empresas pessimistas em relação ao ambiente de negócios.