Pesquisas desenvolvidas na Universidade de Brasília (UnB) estão ajudando a Petrobras a explorar o pré-sal. Uma equipe de especialistas instalada no Laboratório de Micropalenteologia estuda fósseis de animais marinhos ; os ostracodes ; que, dependendo da concentração no fundo do mar, indicam com alto grau de confiabilidade a ocorrência de petróleo. Os trabalhos contam com o apoio financeiro da estatal. A parceria, inédita tanto para a UnB como para a empresa, pode fazer com que o centro montado dentro do Instituto de Geociências se torne referência mundial nessa área.
Equipamentos utilizados pelos cientistas foram adquiridos com recursos repassados pela companhia. São seis microscópios de altíssima definição, avaliados em R$ 40 mil cada um, que possibilitam imagens em terceira dimensão bem mais detalhadas. ;Nem o centro de pesquisa da Petrobras possui as máquinas que utilizamos;, explica Dermeval Aparecido do Carmo, coordenador do projeto e professor do instituto. Segundo ele, além produzir conhecimento de vanguarda para a academia e a indústria, o objetivo do projeto é também formar profissionais de nível internacional.
O gigantesco campo de 800 quilômetros de extensão entre Santa Catarina e Espírito Santo armazena óleo de boa qualidade, mas ainda não é comercialmente viável. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva promete iniciar a extração em escala a partir de 2009, mas os custos ainda estão sendo delineados. Com os preços do barril do petróleo em queda-livre, retirar o produto das profundezas do mar na costa brasileira é caro. Por isso, todos os esforços da União convergem para parcerias ou otimizações de técnicas inovadoras.
Pistas
Como forma de driblar as dificuldades e tentar baratear o processo, a Petrobras aposta na ciência, mas também nos ostracodes (um tipo de crustáceo) para atingir os resultados que espera. Os pequenos animais, impregnados a centenas de anos no solo marinho, apontam com maior ou menor probabilidade a existência de petróleo armazenado sob as camadas de material orgânico do oceano. Concentrados nas pedras, os ostracodes fossilizados são extraídos e examinados em laboratório. ;Os ostracodes ajudam a revelar a idade da rocha, o que é importante na prospecção;, completa Dermeval Aparecido do Carmo.
Os fósseis de ostracodes medem 1 milímetro de comprimento em sua forma mais comum. Esse material ; que agora é investigado ; data do período em que a América do Sul se separou do continente africano, dando origem ao Oceano Atlântico. Como parte da parceria iniciada em janeiro, os pesquisadores da UnB elaboram relatórios que são periodicamente enviados à Petrobras. Há visitas em campo, além de estudos dedicados em várias regiões do país. A análise refinada do que é colhido ou desenvolvido a partir de pesquisas secundárias, no entanto, é totalmente centralizada em Brasília. A equipe que atua no projeto do pré-sal conta com 18 pessoas.
Avanços
O dinheiro repassado à universidade é proveniente do faturamento bruto da estatal e está garantido pela Lei do Petróleo. A verba extra foi utilizada em equipamentos. Os estudos contam com recursos da ordem de R$ 2 milhões e a decisão de como e quando investir a verba é da equipe responsável pelos estudos. A UnB também assina bases de dados que são referência em micropalenteologia, o que amplia ainda mais os horizontes da pesquisa. Além disso, afirmam os cientistas, a comunidade acadêmica tem à disposição boa parte de tudo o que é publicado no planeta na área de geociências.
Para Dermeval Aparecido do Carmo, os trabalhos em andamento na UnB vão proporcionar avanços inestimáveis, que devem reposicionar o Brasil no cenário global. ;O conhecimento gerado aqui pode acelerar a busca por petróleo, ajuda a desenvolver e a orientar o pessoal a atingir os resultados de uma forma mais rápida;, reforça. Recentemente, o coordenador do projeto teve um artigo científico aceito para publicação no Journal of Paleontology, um dos periódicos mais respeitados do mundo. No texto, Carmo apresenta características e fotos de duas espécies de ostracodes típicos da camada pré-sal.