O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira (3/12), em entrevista, que a atitude do Equador em relação ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao governo brasileiro deverá afetar a integração de infra-estrutura da América do Sul. Trata-se de um dos pilares da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), cujos chefes de Estado devem se reunir em meados deste ms, na Bahia. O governo do Equador submeteu à arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, em Paris, há cerca de 10 dias, a decisão de não pagar sua dívida com o BNDES, que financiou o projeto de construção da hidrelétrica San Francisco.
Embora tenha ressaltado que não há aparentemente sinais de que outros países possam suspender o pagamento de seus passivos com o BNDES, Amorim disse que o governo brasileiro precisa ficar alerta. Ele disse esperar que o "aspecto prático" e o "bom senso" predominem em qualquer análise dessa hipótese por outros países vizinhos. "Em uma situação mundial em que poucas são as fontes de empréstimo, em que os países querem fazer obras e em que o Brasil tem se disposto a dar continuidade (aos empréstimos) com as garantias adequadas, não acho que seja provável acontecer (a suspensão de pagamentos ao BNDES)", afirmou Amorim. "Mas eu já me enganei. Tem gente que dá tiro no pé. Espero que não seja este o caso", ressaltou
Pouco antes, em audiência na Comissão de Relações Exteriores, Amorim afirmou que do ponto de vista técnico o Brasil tem uma posição muito sólida a defender diante da Câmara de Comércio Internacional. Ele ressaltou aos deputados que, além do mérito dessa questão, o que mais afetou o governo brasileiro foi a maneira como as medidas foram adotadas por Quito. Referindo-se aos equívocos de Rafael Correa nesse processo, Amorim disse que não existe de fato uma controvérsia entre os dois países, porque o Equador nunca enviou uma notificação ao governo brasileiro ou ao BNDES. "Pode até ser que um país considere uma dívida como incorreta. Mas reagir contra um país amigo, com quem se está tratando um novo empréstimo, é algo curioso", afirmou
Questionado por um jornalista se a reação do Brasil não caracterizaria o País como uma "potência colonial", Amorim rebateu afirmando que o Brasil não pode ser atacado dessa forma, porque não é assim que vem agindo. Em vários momentos da audiência pública, o chanceler ressaltou que as medidas adotadas pelo Brasil, especialmente a de rever novos contratos de empréstimo do BNDES ao Equador, não tiveram caráter de retaliação. "Não há nenhum espírito de retaliação. É por prudência", afirmou. "Como vou, como chanceler, favorecer um empréstimo a um país que acabou de dizer que não vai pagar um empréstimo anterior, sem nos ter consultado antes?", indagou