O setor de autopeças prevê cortar 8.200 postos de trabalho até o final deste ano e chegar a dezembro empregando 223,7 mil trabalhadores. Em setembro, o número de funcionários chegou a 231,9 mil, mês em que foi registrado o maior nível de emprego no setor.
As demissões foram apontadas em sondagem com 95 empresas associadas ao Sindipeças (sindicato que reúne a indústria nacional de componentes para veículos), responsáveis por 41% do faturamento do setor, e refletem o impacto da crise financeira mundial.
Com a queda de encomendas das montadoras para as autopeças e a redução das exportações, o setor já revê os planos de contratações, faturamento e investimentos previstos.
Se o corte de vagas se confirmar, o setor deverá registrar crescimento do emprego em torno de 3,2%, e não mais em torno de 9%, como previa, se considerados os números de empregados em setembro deste ano (231,9 mil) e de igual mês do ano passado (212,2 mil).
As autopeças informaram que vão conceder férias coletivas por um período de 16 dias durante este mês. Os investimentos programados para 2009 serão reduzidos, segundo 46% das empresas consultadas, e mantidos por 48% delas. Apenas 6% têm a intenção de aumentar os investimentos.
O faturamento do setor, previsto para crescer 9,6% neste ano em relação ao ano passado, foi revisado e deve chegar a R$ 74,4 bilhões neste ano.
"O primeiro trimestre do ano que vem será muito difícil", afirma Paulo Butori, presidente do Sindipeças, que montou uma equipe para estudar medidas para amenizar os efeitos da crise no setor.
Os sindicatos de trabalhadores têm a mesma opinião. A queda nas vendas de veículos, de 25% em novembro na comparação com outubro, deve atingir o emprego no setor automotivo a partir de 2009. A intensidade desse impacto vai depender ainda dos resultados das vendas neste mês, segundo avaliam os sindicalistas.
"A queda nas vendas em novembro não nos surpreendeu porque o consumidor ainda enfrenta dificuldades para financiar a compra de carro novo, e o de usado é praticamente inexistente. Os R$ 8 bilhões liberados pelos governos federal e estadual ainda não chegaram ao consumidor", diz Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT).
"As empresas esgotam todas as possibilidades, como concessão de férias coletivas e uso de banco de horas, antes de tomar qualquer medida mais drástica, como demitir", afirma Nobre.
Na estimativa da CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), 70 mil metalúrgicos estarão em férias coletivas neste mês, considerando os empregados de montadoras e de outros setores - autopeças, mineração, siderurgia, motocicletas e eletroeletrônicos.
Em São Paulo, o sindicato da categoria informa que, dos 260 mil metalúrgicos representados pela entidade, devem entrar em férias coletivas 8.900 de 160 empresas - a maior parte dos pedidos feitos até ontem de descanso coletivo se concentra no período de 22 de dezembro a 5 de janeiro.
"Consideramos o número pequeno em relação à quantidade de metalúrgicos em nossa base, sinal de que a crise ainda não chegou ao emprego do setor. Nosso temor é em relação ao primeiro trimestre de 2009, época em que tradicionalmente as vendas já são mais fracas", diz Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical).