Até mesmo os países ricos reconhecem: a maior crise financeira global desde 1929 começou nos países desenvolvidos e acabou se alastrando pelo mundo. Assim, soluções devem ser articuladas globalmente. Essa é a principal conclusão da primeira cúpula de chefes de Estado e de Governo do G20 financeiro, realizada neste fim de semana em Washington.
Nas principais questões houve perfeita sintonia entre os países, isso é que é muito importante, avaliou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após a reunião. Mantega é o atual presidente do grupo até agora formado por ministros de economia e presidentes de bancos centrais de 19 grandes economias desenvolvidas e emergentes que, juntas, representam 85% do PIB mundial.
Apesar da declarada resistência norte-americana, os líderes acabaram concordando com a elaboração de regras internacionais para o mercado financeiro, de forma a dar maior transparência e a reduzir os riscos das operações financeiras.
Uma proposta para tal regulação deve ser elaborada por ministérios da Fazenda, bancos centrais, técnicos e setor privado até o dia 31 de março, para análise em nova cúpula de líderes marcada para 30 de abril provavelmente na Inglaterra, que ocupará a presidência do G20 financeiro em 2009.
"Se eu falasse um ano atrás para fazermos uma única regulação para o mercado futuro, para o mercado financeiro de derivativos, para bancos de investimento, o pessoal não ia dar atenção, principalmente os mercados mais desregulados. Mas diante da crise, diante da quebradeira que foi,os principais atores deste processo quebraram, os bancos de investimentos nos Estados Unidos não existem mais. Então, acredito que haverá menos obstáculos para que isso seja feito", avaliou Mantega.
O presidente George W. Bush defendia o livre mercado, com regulação sob responsabilidade de cada país. A posição do anfitrião não deixou de ser contemplada no comunicado final da cúpula.
A regulação é, antes de tudo e principalmente, responsabilidade dos reguladores nacionais, que constituem a linha de frente na defesa contra a instabilidade dos mercados, diz o texto pronto desde o dia 14 e apenas aprovado neste domingo (16/11) pelos chefes de Estado e de Governo.
Entre os compromissos assumidos estão o fortalecimento da transparência dos mercados financeiros e, no médio prazo, a reforma das instituições financeiras multilaterais, idealizadas nos anos 40 na conferência de Bretton Woods (Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial).
Pelo menos em teoria, todos concordaram em dar mais espaço s dinâmicas economias do mundo emergente e em desenvolvimento e também aos países mais pobres do planeta.
"Estamos comprometidos em avançar nas reformas das instituições de Bretton Woods, de forma que reflitam adequadamente a mudança das forças econômicas na economia mundial para aumentar sua legitimidade e efetividade", diz o documento de líderes.