Os líderes dos países desenvolvidos e emergentes do G20, reunidos em Washington, pretendem adotar neste sábado (15/11) um plano de ação contra a crise mundial, que combina um reforço da vigilância e a regulação das finanças a um apoio da atividade econômica.
Os chefes de Estado e de Governo do G20 vão concordar neste sábado em estimular a economia mundial e aplicar uma nova regulação do sistema financeiro internacional, além de programar um segundo encontro para abril, anunciou a presidência francesa.
Os líderes, que iniciaram a reunião na sexta-feira à noite, devem publicar um comunicado final de cinco páginas ao fim do encontro inédito neste sábado, com o objetivo de conter a pior crise financeira desde a Grande Depressão dos anos 30.
Segundo a presidência francesa será possível fazer um "primeiro balanço" das decisões adotadas na reunião de cúpula até 31 de março. Uma segunda reunião do G20 será organizada entre 31 de março e 30 de abril de 2009, provalvemente na Grã-Bretanha, de acordo com informação revelada pelo chanceler brasileiro Celso Amorim.
"O comunicado transmitirá mensagens positivas em três capítulos: apoio à economia, nova regulação internacional e reforma do governo mundial. Além do comunicado de cinco páginas, há um plano de ação detalhado com uma série de medidas e regras, ordenadas e com objetivos, com uma data fundamental, a de 31 de março de 2009", afirmou uma fonte da presidência francesa.
O comunicado destacará o compromisso dos países para executar esforços simultâneos, recorrendo a políticas orçamentárias e monetárias e apoiando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e os bancos de desenvolvimento. "Não deixaremos nenhum país para trás", insistiu a fonte.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, confirmou que os líderes do G20 estão perto de um consenso sobre a aplicação de uma regulação melhor e de mais vigilância do sistema financeiro e de suas instituições.
"A crise tem demonstrado que existiam problemas de regulação e de vigilância. Temos que tratar destes problemas", declarou Barroso depois do jantar de trabalho na Casa Branca, onde teve início na sexta-feira a reunião de cúpula dos principais países desenvolvidos e emergentes destinada a buscar soluções para a grave crise financeira.
"Não digo que estamos de acordo em tudo, mas acredito que agora existe uma disposição maior para reformar os princípios das finanças mundiais e também para reformar, mais adiante, as instituições financeiras mundiais, a saber o Fundo Monetário Internacional", acrescentou.
"Nenhuma instituição financeira deveria escapar da regulação e da vigilância", insistiu Barroso. "Deveríamos estabelecer mais normas claras para que as finanças mundiais funcionem e acredito que existe um consenso neste sentido", concluiu.
Brasil
Os presidentes de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e Argentina, Cristina Kirchner, concordaram que a crise dos países ricos não deve se estender aos emergentes, revelou o chanceler argentino, Jorge Taiana, à margem da Cúpula do G20.
Lula e Kirchner insistiram no fato de que "a crise teve origem nos países desenvolvidos" e que os ricos não devem exportá-la "aos países em desenvolvimento", destacou Taiana. "É preciso fortalecer a demanda, manter o consumo para evitar que a crise se amplie", opinou o chanceler.
Os dois presidentes "concordaram em vários aspectos, e certamente em preservar o nível de atividade, em estimular a economia real", disse Taiana para resumir a postura dos países emergentes, representados na Cúpula de Washington por Brasil, Argentina e México.
Pra o Brasil, o G20 deve analisar mecanismos para coordenar políticas fiscais e se tornar um foro permanente. O objetivo geral da reunião deverá ser a busca de mecanismos para reduzir o custo do crédito e tornar o dinheiro mais disponível, explicaram os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e da Fazenda, Guido Mantega, em Washington.
O Brasil insistirá na "importância de se relançar a economia mundial de forma coordenada" e "esse relançamento supõe uma coordenação sobre as políticas fiscais de estímulo", disse Amorim, após um encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown.
Mantega destacou que é preciso estabelecer um "programa de políticas monetárias, reduzindo as taxas de juros, aumentando o crédito e fazendo com que a liquidez chegue ao consumidor e ao produtor", isto acompanhado de um aumento de gastos do setor público.