Empresas com prejuízos bilionários, desemprego histórico no Reino Unido e a indústria automobilística americana à beira da falência formaram o coquete de más notícias que derrubou as Bolsas de Valores nesta quarta-feira. As ações da Petrobras puxaram as perdas da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), apesar do lucro recorde anunciado ontem à noite. E o dólar bateu R$ 2,29, apesar das intervenções agressivas do Banco Central.
"Foi um somatório de más notícias [que derrubou as Bolsas]. Entre as principais eu vejo o fato da General Motors está à beira da falência e há uma morosidade do atual governo para ajudar as montadoras. Depois, o paradoxo das ações da Petrobras terem despencado, apesar do lucro recorde. Um grande banco estrangeiro deu uma recomendação negativo para as ações", comenta Décio Pecequilo, operador-sênior da corretora TOV. "A Bolsa fechou muito ruim hoje e amanhã a abertura pode ser também um pouco negativa também. Algumas ordens de venda remanescentes podem ser executadas no pregão de quinta-feira", acrescenta.
O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, desvalorizou 7,75% no fechamento e atingiu os 34.373 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,09 bilhões.
Somente a ação preferencial da Petrobras movimentou quase 30% do volume total da Bolsa brasileira, desabando 13,75% no pregão de hoje. O papel foi a "porta de saída" de muitos investidores, assustados com a perspectiva da economia global. A perda de valor da ação também refletiu as análises pessimistas de corretoras sobre o balanço divulgado ontem pela petrolífera: analistas viram um aumento importante dos custos da empresa, num período de queda dos preços do petróleo, que hoje bateu a casa dos US$ 55.
Operadores também afirmaram que bancos estrangeiros rebaixam a recomendação para as ações da estatal, estimando lucros menores no próximo trimestre. Essa notícia fez disparar ordens de venda no pregão de hoje e contribuiu derrubar ainda mais a Bolsa brasileira.
O dólar comercial fechou cotado a R$ 2,290 para venda, em uma forte alta de 2,92% sobre a cotação de ontem. A taxa de risco-país marca 445 pontos, número 2,05% acima da pontuação anterior.
O Banco Central vendeu moeda logo pela manhã e promoveu um leilão de contratos de "swap" cambial, previsto desde ontem. Diante da disparada das cotações, que chegaram à casa dos R$ 2,31, o BC voltou à carga e promoveu um segundo leilão de "swap". "Nesta semana, somente tivemos más notícias. A única positiva foi logo na segunda-feira [o pacote fiscal chinês de US$ 586 bilhões], mas o efeito passou rápido. Mas mercado realmente piorou depois do anúncio do [Henry] Paulson", comenta Glauber Romano, economista da corretora de câmbio Intercam. A economia européia foi a fonte de algumas das piores notícias do dia: o Reino Unido revelou que o contingente de desempregados é o maior desde 1997 e o banco central inglês previu uma recessão neste segundo semestre; na Espanha, o governo local também admitiu que o país está em recessão. E no front corporativo, as instituições financeiras ING e Hypo Real Estate admitiram prejuízos na casa dos bilhões.
Nos EUA, as notícias não foram melhores: os investidores estão assustados com o quadro da indústria automobilística --após revelar perdas bilionárias, a General Motors admitiu que pode quebrar sem novos recursos. Hoje, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, anunciou que o pacote de US$ 700 bilhões pode ser usado para auxiliar empresas fora do setor bancário, mas sem incluir companhias não-financeiras. O anúncio não foi bem recebido pelo mercado e as Bolsas de Valores desabaram.