Jornal Correio Braziliense

Economia

Serviços como lavanderia, refeições e hotéis ficam mais caros no DF

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Se o aumento dos preços dos produtos está sacrificando o bolso do brasiliense, são os reajustes na contratação de serviços que têm contribuído decisivamente para deixar a conta do mês mais salgada. A inflação acumulada nos últimos 12 meses fechou outubro em 6,20% a maior desde 2005. Mas a cesta de serviços subiu 11% em apenas um ano, segundo um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) para o Correio. É o maior aumento desde 2004, ano em que a FGV começou a divulgar o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) para a capital federal. Os serviços subiram mais que a inflação média em todos os anos, mas em 2008 a diferença é maior. No ano passado, no período acumulado entre novembro de 2006 e outubro de 2007, o reajuste em serviços foi de 4,37%, enquanto o IPC-S subiu 4,05%. Para comer em um restaurante, o brasiliense está pagando, em média, 13,35% a mais do que gastava em outubro de 2007 (veja quadro). Para comprar uma passagem aérea é necessário desembolsar 40,22% mais. As consultas com médicos e dentistas ficaram 7,89% e 10,06% mais caras, respectivamente. Consertar o carro, ficou 6,38% mais oneroso. E para continuar freqüentando um salão de beleza, as mulheres do Distrito Federal têm que estar dispostas a gastar 6,94% mais do que no ano passado. Os prestadores de serviços culpam o aumento de custos. Mas o repasse só está sendo feito porque há margem para isso, explica o autor do estudo, André Braz, coordenador do IPC-S. A massa salarial do brasiliense teve uma alta de 15,2% em relação ao ano passado, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). ;Esse ano uma gama maior de serviços estão tendo aumento de preços. A inflação de serviços é puxada principalmente pelo aumento da demanda, que cresceu puxada pelo aumento de renda;, afirma. A crise financeira, segundo ele, só vai travar o repasse de preços se os empresários sentirem uma queda na demanda. ;A crise só vai impactar se houver demissões e diminuir a capacidade de consumo das famílias;, completa. Os reajustes nos valores cobrados pelos serviços trazem embutidos aumentos que os prestadores estão tendo que arcar, segundo alegam os próprios empresários. O preço do aluguel é a principal justificativa. Nos últimos 12 meses, ficou 8,03% mais elevado, de acordo com a FGV. Um aumento de 13% levou a esteticista Gisele Susstrunk, de 28 anos, a alterar o endereço de sua clínica de estética. De uma loja em Ceilândia, ela se mudou para um espaço dentro de sua casa, na mesma cidade. Com isso, economizou R$ 420 por mês: o aluguel. ;Acabei perdendo clientes, mas não poderia continuar lá porque já estava aumentando preços porque estou pagando mais pelos cremes. Se ainda tivesse que bancar um aluguel salgado iria ficar difícil;, conta. Pelo pacote de 10 sessões de massagem estética, que no Plano Piloto passa de R$ 300, ela cobrava R$ 100. Com os reajustes nos preços dos cremes, aumentou para R$ 150. Se por um lado Gisele contornou o aumento de custo para não repassá-lo aos clientes, ela não conseguiu escapar do reajuste em seus gastos. No mês passado a mensalidade da academia em que malha há dois anos passou de R$ 59,90 para R$ 69,90. ;Pesa no orçamento. Continuo pagando porque vale a pena, mas fico com medo de aumentarem mais. E agora, no fim do ano, ainda vem reajuste de escola das crianças;, lamenta a mãe de dois filhos. Refeição sobe 13,35% Comer fora de casa está cada vez mais caro. A inflação dos alimentos, somada ao acréscimo nos aluguéis, é a responsável por elevar os preços cobrados pelos restaurantes. A refeição ficou, em média, 13,35% mais cara. No ano passado o incremento havia sido de 4,32%. Mesmo com a alta, os empresários reclamam. Alegam que não estão repassando toda a elevação de custos que estão tendo que arcar. ;O aumento de renda da população não está acompanhando a alta que temos que pagar, por isso não conseguimos repassar tudo. Nossa margem está apertada, mas não tem como aumentar muito. A demanda já está reprimida, nossa esperança são as confraternizações de fim de ano;, afirma o diretor do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Distrito Federal (Sindhobar/DF), Jael Antônio da Silva. Eleomar Caetano, 40 anos, dono de um self service na Estrutural, teve que engolir parte do custo do aumento dos alimentos e do aluguel, que passou de R$ 400 para R$ 600. Até agora elevou apenas o preço do Prato Feito. O PF passou de R$ 5 para R$ 6 e os consumidores reclamaram. ;Tenho que ficar explicando o que aconteceu. No valor do quilo vou levando até onde der, tenho medo de aumentar e perder os clientes. Mas estou trocando marcas de produtos;, conta. (MF) O custo da beleza A inflação elevada trouxe os reajustes para dentro dos salões de beleza. As mulheres estão pagando, em média, 6,94% mais para manter os cuidados pessoais. Além dos custos comuns a todos os setores, os empresários culpam o aumento dos preços dos produtos para tratamento. Boa parte em função do dólar, já que muitos cremes e tinturas são importados. ;Se aumentam muito os preços dos produtos e do aluguel, temos que repassar. A melhora da renda da população nos permite elevar valores;, afirma a presidente do Sindicato dos Salões de Cabeleireiros, Barbeiros, Clínicas de Estética e Podologia do Distrito Federal (Sincaab), Elaine Furtado. Enquanto o preço para tingir os cabelos pode chegar a R$ 500 e o valor para fazer as unhas dos pés e das mãos a R$ 42 em salões do Lago Sul, as empresárias Daniela Sorata, de 30 anos, e Glébia Siqueira, de 26, sofrem para reajustar a unha de R$ 10 para R$ 12 e a pintura de R$ 45 para R$ 55. No salão de beleza em que são sócias, localizado na Estrutural, o incremento, mesmo que pequeno, pode ter seus efeitos negativos. ;Não dava mais para cobrar os mesmos preços porque tudo aumentou, mas isso faz com que muita gente desista de se cuidar;, afirma Daniela. (MF)