Jornal Correio Braziliense

Economia

União entre Unibanco e Itaú pode acarretar em aumento de tarifas

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Os consumidores devem se preparar. Apesar de, num primeiro momento, a fusão entre o Itaú e o Unibanco reforçar a solidez do sistema financeiro nacional, mais à frente, a operação pode acarretar em um aumento de tarifas, movimento muito comum em mercados dominados por poucos atores, como o que se desenha no país. ;Sinceramente, sou contra a concentração. Ela sempre é nociva do ponto de vista dos consumidores;, disse José Luiz Rodrigues, consultor da área bancária. ;De início, a fusão realmente será boa para o sistema. Mas, depois, poderá prejudicar ; e muito ; a clientela dos dois bancos e de todo o sistema;, acrescentou João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho e Associados. ;No médio prazo, os bancos tendem a fazer acordos para puxar as tarifas para cima;, emendou. Esse movimento de concentração também tende a fechar postos de trabalho, devido à sobreposição de funções. O futuro presidente do banco originário do casamento entre o Itaú e o Unibanco, Roberto Setúbal, ressaltou que, em relação aos custos dos serviços bancários, ainda é cedo para se falar. Quanto aos empregos, ele destacou que não há nenhuma perspectiva de demissão. A tendência, segundo ele, é de o atual quadro de funcionários do Itaú e do Unibanco, de quase 100 mil pessoas, seja expandido, uma vez que o novo banco continuará crescendo, aproveitando-se do bom momento da economia brasileira. ;Não temos nenhuma perspectiva de fechar agências. Pelo contrário, a tendência é de ampliarmos a nossa rede de atendimento;, ressaltou Pedro Moreira Salles, atual presidente do Unibanco. Para a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste), Maria Inês Dolci, em um mercado concentrado, dominado por poucos ; a indicação é de que cinco ou seis bancos respondam, em breve, por mais de 90% do sistema financeiro nacional ;, o grande prejudicado é o cliente. A mesma avaliação é feita pela gerente jurídica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Karina Grou. Ela recomendou aos consumidores que fiquem atentos às políticas tarifárias. Economista do Instituto de Pesquisa Fractal, Celso Grisi discorda da teoria de que um mercado concentrado leva ao encarecimento dos serviços bancários. ;O consumidor pode tirar proveito do fato de que está ficando restrito o espaço para novas compras de bancos. E quem quiser manter a clientela terá que oferecer atrativos. Nesse ambiente, os reajustes de tarifas acabam ficando limitados;, assinalou. ;Para o consumidor, a concentração pode trazer benefícios, mas a situação vai piorar para os empregados e fornecedores;, avisou. As centrais sindicais manifestaram preocupação com a união entre o Itaú e o Unibanco. A Força Sindical frisou que a operação pode ser o início de uma concentração predatória, criando um monopólio num setor estratégico para o desenvolvimento do país. ;É importante que o governo abra negociação com as centrais sindicais para evitar o desemprego, justamente neste momento de crise econômica internacional;, frisou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contra/CUT), ;a crescente concentração é ruim para os clientes e usuários do sistema bancário porque diminui a competição, fortalece excessivamente os bancos e diminui a possibilidade de redução dos juros ao consumidor;. A fusão será analisada por cinco órgãos do governo: BC, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda e Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).