Porto Velho ; Com uma roupa feita de crochê nas quatro cores da bandeira brasileira, Elielza Ramos Freires, 38 anos, entrou em um shopping pela primeira vez. Conhecida como Bailarina pela população de Porto Velho, em Rondônia, ela se enfeitou da cabeça aos pés para o acontecimento. No edifício, o que lhe chamou a atenção foi a escada rolante. ;Essa foi a segunda vez em que andei de escada rolante. Ainda não me acostumei;, confessou, um tanto perturbada.
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A cena, ocorrida na última quinta-feira, pode parecer estranha aos brasilienses, que contam com 16 centros comerciais. Mas foi realidade repetida por muitos moradores da região na inauguração do Porto Velho Shopping, o primeiro do estado. Sua abertura causou sensação e atraiu gente até de outras cidades para ver as seis escadas rolantes e o elevador panorâmico que, para frustração dos mais dispostos, ainda não está funcionando.
Impecável com seus cabelos amarrados, de vestido rosa e bolsa combinando, a pequena Tainá Ferreira, 7 anos, subiu e desceu diversas vezes pelas escadas. ;Nunca tinha andado. Achei muito legal;, disse a menina enquanto sua mãe, a técnica em enfermagem Edilene Ferreira, 35 anos, admirava a coragem da filha. ;Tenho pavor de altura. Não tenho coragem de subir nessas escadas.;
Muita gente também paralisou ao pé da escada. Alguns aceitaram a ajuda dos seguranças para experimentar a aventura. Outros desistiram. ;Não quero nem pensar quando inaugurarem o elevador panorâmico. Vai ser um terror;, disse Edilene.
Para a estudante Adriana Gomes Ribeiro, o sobe-e-desce nas escadas foi um sacrifício feito em nome dos filhos. ;Minha amiga teve que me segurar até em cima;, contou. Ela adorou fazer compras num shopping. Aproveitou para adquirir uma árvore de Natal para substituir a que tem em casa. ;Achei ótimo passear aqui porque encontrei todas as lojas em um lugar só;, impressionou-se.
A opinião foi compartilhada pelo servidor público e boxeador Elias Ferraz, 47 anos. Ao contrário de Adriana, ele já freqüentou vários shoppings pelo país e ficou feliz em poder comprar em um mais perto de casa. Elias aproveitou as promoções de inauguração para adquirir roupas para revender. Gastou R$ 160 em 22 peças. ;Muita gente de Porto Velho não virá ao shopping e eu vou vender as roupas para eles lá na minha repartição;, disse, confiante.
Assim como Elias, outras pessoas vão ganhar dinheiro com o empreendimento. Além dos donos das 140 lojas, 2 mil pessoas vão trabalhar no centro comercial. Muitas foram contratadas sem ter sequer experiência. É o caso de Uilliam Euclides Silva, 24 anos, que buscava emprego. Cristiane Flores, 21 anos, também conseguiu o primeiro trabalho. ;Vou pagar meu tratamento de dentes e depois ajudar minha mãe a comprar uma geladeira nova;, revelou.
O grupo Ancar Ivanhoe ; dono do centro comercial inaugurado na quinta-feira com investimento de R$ 80 milhões ; tem projeto aprovado para dobrar o tamanho da construção. ;Faremos isso quando o mercado mostrar a necessidade;, garantiu Sérgio Carvalho, presidente do Conselho de Administração da empresa.
Essa é a quarta vez em que o executivo foi pioneiro na construção de um shopping numa cidade. Ele foi o responsável pela fundação do Conjunto Nacional, em 1971, primeiro empreendimento do tipo em Brasília e segundo do país. Carvalho criou ainda o primeiro shopping de Porto Alegre e do Recife. ;É fascinante trabalhar em um projeto desses porque, muitas vezes, precisei explicar para o prefeito e para os lojistas o que é um shopping;, contou o empresário, que carrega na mala um vídeo para mostrar como é um centro comercial.
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