O diretor de Planejamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), João Carlos Ferraz, não descartou a possibilidade de o banco antecipar desembolsos para empresas que registraram perdas com derivativos cambiais. O executivo frisou que o banco só fará empréstimos para projetos de investimentos e que analisará a situação das empresas, suas ações recentes e suas relações com o mercado.
"Vamos discutir o caso dessas empresas à luz de seus projetos de investimento, à luz de sua situação. Elas têm uma agenda ainda com relação ao mercado, com seus acionistas, que deve ser esclarecida. Uma vez que a relação com o mercado esteja esclarecida, aí é que o BNDES entrará, uma vez que o pleito esteja sobre a mesa", afirmou, após participar da 4¦ Jornada de Estudos de Regulação, na sede do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) no Rio.
Ferraz destacou que o BNDES vai esperar que as empresas tomem suas decisões. A partir daí, caso seja solicitado, o banco vai avaliar os planos de negócios e de investimentos e o que está associado a eles. O diretor ressaltou que o BNDES "serve ao investimento", e que sua missão é facilitá-lo.
"Nós anteciparemos recursos se forem necessários para o calendário de investimentos de empresas que estão com programas de investimentos", observou. Segundo o diretor, as empresas que tomaram decisões de fazer operações relacionadas ao câmbio tem que arcar com as conseqüências, ter "responsabilidade sobre isso". "Se os projetos forem comprometidos, nós vamos estudar cada caso, de maneira ao que está afetando a capacidade dessa empresa investir".
João Carlos Ferraz avaliou que o conjunto de investimentos em projetos de alto retorno e baixo risco não deverá diminuir. Outros projetos que deverão passar ao largo da crise são os ligados à infra-estrutura, salientou. Ele citou como exemplo o leilão de rodovias ocorrido ontem em São Paulo.
"O país pode seguir a trajetória de crescimento dos investimentos, mas com cautela. Mas nessas áreas, especificamente, tenho certeza que continuarão em alta", afirmou, lembrando que a maior parte dos investimentos em infra-estrutura já decididos tem "cobertura ampla e adequada".
Cenário em 2009
Apesar de vislumbrar um cenário mais complicado para 2009, Ferraz disse que ainda é cedo para perceber efeitos da crise na esfera do BNDES. Segundo ele, não há mudanças significativas em relação às consultas de empresas junto à instituição. O diretor acrescentou que a maior parte das decisões avaliadas pelas empresas são de longo prazo, e vão além de 2009 e 2010.
Ferraz comentou ainda a decisão do BC (Banco Central) em manter a taxa Selic de juros em 13,75% ao ano. Para o executivo, a manutenção mostra que o BC está atento às incertezas do atual momento da economia mundial, e que diante de tantas dúvidas, "parar e olhar em volta é o mais adequado".
"O Brasil tem especificidades próprias, como a alergia à inflação e o movimento de câmbio que não tem direção", afirmou, admitindo que possa haver mudanças de rumo mais à frente.