Jornal Correio Braziliense

Economia

Comércio diz que entende Copom, mas espera retomada da queda de juros

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Entidades representativas do comércio do Rio e de São Paulo divulgaram notas em que afirmam entender a posição cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom) em manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano. Todos são unânimes, no entanto, ao defender que as próximas reuniões resultem em redução dos juros. Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Abram Szajman, o Copom "considerou como correta a decisão do Copom em manter a Selic inalterada", mas ressaltou que espera que o comitê inicie um processo de redução da taxa básica. "Enquanto o mundo inteiro se preocupava com o ritmo da economia e a Europa, o Japão e os Estados Unidos reduziam consistentemente suas taxas de juros, o Banco Central do Brasil parecia caminhar na contramão e ignorar os claros sinais de recessão que estão à vista de todos", afirmou. "Ao longo de 2008 quase todos os países do mundo promoveram quedas nas suas taxas de juros, preocupados com o aspecto bastante recessivo da crise. O Brasil passou o ano elevando juros". Para a Fecomercio, a expectativa inflacionária derivada da pressão cambial não justifica a continuidade do aperto monetário. "Esse argumento soa até irônico, pois no passado a valorização do câmbio nunca foi motivo para impedir a alta da Selic." "Hoje o BC libera o compulsório e insiste para que os bancos emprestem os recursos, sem represar a liquidez", afirmou. Para completar esta ação, avalia a Fecomercio, o BC deve reduzir as taxas de juros. "Se o governo não reduzir os juros, setores industriais dependentes de crédito, voltados praticamente apenas para atender o mercado interno, são os que sofrerão mais. É o caso do setor automobilístico e da construção civil, justamente aqueles que o governo considera como os mais relevantes para manter o ritmo de atividade e o nível de emprego." O presidente da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomercio-RJ), Orlando Diniz, afirmou que o "Banco Central deveria priorizar a atividade econômica". "O Copom mostrou-se atento à gravidade da crise financeira internacional, mas perdeu a oportunidade de amenizar seus efeitos, o que significaria optar pelo corte nos juros", afirmou. "Se as altas anteriores da Selic vinham sendo compensadas pelo alargamento dos prazos dos financiamentos, agora, com a crescente aversão ao risco e a baixa liquidez o impacto dos juros será maior. Afinal, os mercados têm encarecido o crédito através de concessões mais criteriosas, feitas a prazos menores e taxas mais altas." Alencar Burti, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), afirmou que "a decisão do Copom decepcionou o lado real da economia, embora possa ser justificada como uma cautela do Banco Central devida ao temor com a inflação". "Os empresários esperavam a redução da taxa, tendo em vista a forte retração do crédito, aumento dos juros e redução dos prazos de financiamento, que vêm afetando as vendas do varejo, provocando redução da produção e das horas trabalhadas em muitos segmentos, com riscos de levar à demissão de trabalhadores", afirmou. Para Burti, "parece haver contradição entre os esforços do BC para irrigar a economia com crédito, com a redução dos compulsórios, e não reduzir as taxas de juros". "Esperamos que essa parada represente o primeiro passo para a redução da taxa Selic, para que a economia brasileira possa continuar a crescer, apesar da crise internacional", disse.