Jornal Correio Braziliense

Economia

Dólar em alta tira remédios de farmácias no DF

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A crise financeira já provoca falta de medicamentos. Nas últimas semanas, diversos itens, de um simples antigripal a remédios de uso contínuo para controle da pressão arterial, simplesmente desapareceram das prateleiras de muitas farmácias. ;Está faltando uma gama enorme de medicamentos de uso contínuo e controlado, e até remédios bem comuns, como Luftal, um antigases que muitas crianças usam. Estamos pedindo há 40 dias, mas está em falta;, revela Felipe de Faria, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Distrito Federal (Sincofarma-DF) e proprietário da rede de drogarias Distrital. ;Como quase todo medicamento é importado, a gente acha que deve ser efeito da disparada do dólar. Preço de remédio só sobe com autorização do governo;, observa. Nas drogarias Rosário, alguns produtos, como Luftal e Diovan, não estão disponíveis. ;Estamos remanejando estoques de outras lojas para amenizar o problema. Tenho medo de que comece a faltar também produtos mais específicos, de patente de um único laboratório;, comenta Álvaro Júnior, vice-presidente do Sincofarma e diretor-executivo da Drogaria Rosário. A professora Mônica Mariano está vivendo esse drama. Ela precisa tomar diariamente o Neotigason, para tratamento da psoríase, doença crônica da pele, mas não consegue comprá-lo em nenhuma farmácia. A caixa com 30 comprimidos custa R$ 300. ;Virou um caos. Como é um remédio controlado, só dá para comprar uma caixa por mês, mas não estou encontrando em nenhuma farmácia.; Mônica telefonou para o laboratório na esperança de conseguir o medicamento. Sem sucesso. ;Não sei mais o que fazer;, desabafa. Segundo Tânia Torres, subsecretária de Atenção à Saúde do DF, a falta do medicamento decorre de problemas de abastecimento do laboratório fabricante, o Roche. Apuros A funcionária pública Tânia Gomes passa pela mesma dificuldade para comprar medicamentos de uso contínuo para seus pais, de 85 anos. Tiorfan (tratamento intestinal), Diovan (hipertensão arterial), Luftal Max e Salompas (ameniza dores musculares) são alguns itens. ;Estamos no maior sufoco. É um absurdo. Depois da crise, piorou muito. Se aqui na capital da República está acontecendo isso, imaginem o que está ocorrendo no interior do país.; Segundo Fábio Morais, gerente da Associação de Defesa dos Consumidores e Usuários de Medicamentos (Adcum-DF), 30% a 40% dos remédios estão em falta nas distribuidoras. A entidade vende para os associados produtos a preço de custo, mas está tendo que recorrer às farmácias. ;Para não deixar o associado na mão, pesquisamos nas farmácias, buscando o menor preço. Mas o Luftal, por exemplo, falta em praticamente todas;, afirma. A substituição do produto de marca pelo genérico pode ser uma opção, mas nem todos os medicamentos têm o equivalente. ;Uma cliente teve que pedir para o médico trocar o medicamento, pois o Zestoretic, para pressão alta, estava em falta e o genérico também;, conta. Promoções raras A falta de medicamentos não se restringe a Brasília. Segundo Luiz Fernando Buainain, presidente da Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico (Abafarma), em Mato Grosso do Sul está ocorrendo o mesmo problema e, segundo fontes do mercado, a escassez de produtos estaria respingando até em São Paulo, mercado que representa praticamente um terço do consumo nacional de remédios. ;Concordo que parte do efeito pode ser da alta do dólar, já que a maioria dos insumos são importados, mas não acredito em falta de produtos na indústria. A maior falta está ocorrendo nas distribuidoras;, afirma Luiz Fernando Buainain. Ele explica que, por causa da guerra fiscal entre os estados, as margens das distribuidoras são muito apertadas e o custo operacional alto. E como as empresas não adotam mais a política de fazer grandes estoques, o capital de giro virou peça fundamental do negócio. ;Não concordo que seja o dólar que está provocando falta de remédios e sim o encarecimento do capital de giro, atrelado às margens;, enfatiza. Promoções ameaçadas O reajuste dos preços de medicamentos só ocorre uma vez por ano, geralmente em março, mas o consumidor pode ter que pagar mais caro pelos remédios antes dessa data. O fim das facilidades e o encarecimento das linhas de crédito para as distribuidoras já bateu nas farmácias e deve chegar em breve ao bolso dos clientes, que terá menos prazo para pagamento e encontrará menos promoções nos estabelecimentos. ;Para não aumentar o preço, os laboratórios estão reduzindo o período para pagamento. O prazo que era de 30 e 60 dias está sendo reduzido para 30 a 45 dias e tem empresa que falou até em venda à vista;, revela Natanael Augusto, gerente-comercial da Drogaria Santa Marta. Com menos prazo para pagar o distribuidor, a drogaria Santa Marta teve que mudar as condições de pagamento para os clientes. Para vendas com cheque pré-datado, de 90 dias direto, o prazo caiu para 30 e 60 dias. ;No cartão de crédito, ainda estamos conseguindo manter três vezes sem juros;, diz. Receosa de que a situação piore, a drogaria vai adiar a campanha promocional que seria lançada em novembro. ;Vamos ter que segurar. Se o cenário não melhorar, teremos que reduzir as promoções;, admite Natanael Augusto. Buainain, da Abafarma, explica que o capital de giro é que sustentava as condições elásticas de pagamento dos distribuidores para as farmácias. ;O prazo de pagamento médio da indústria é de 25 a 30 dias. Não tem como comprar com 25 dias e vender com prazo de 60 dias. Só tem um jeito: se tiver capital de giro;, afirma.