Jornal Correio Braziliense

Economia

Brutal restrição do crédito derruba produção e consumo

;

Nas conversas internas e em contatos com analistas, diretores do Banco Central têm admitido que o impacto da restrição do crédito na economia brasileira será dramático, caso as torneiras não sejam reabertas rapidamente. Se esse choque se prolongar por mais um mês ; somente nos primeiros dias de outubro, o crédito às empresas e ao consumo encolheu 13% ;, e o travamento ao qual foi submetida a economia continuar, há no BC quem admita a possibilidade de o Produto Interno Bruto (PIB) deste quarto trimestre do ano registrar crescimento próximo de zero e levar um tombo nos primeiros três meses de 2009. ;O fator psicológico está falando mais alto. Boa parte da produção parou e muita gente está adiando o consumo por causa da crise mundial. Exportações e importações não estão sendo fechadas. Isso custará caro;, afirmou um técnico do BC. Ele lembrou que joga contra o PIB do quarto trimestre e dos primeiros três meses de 2009 o fato de a base de comparação ser muito elevada. Nos últimos três meses de 2007, por exemplo, a economia avançou expressivo 1,8% sobre o trimestre anterior. Esse resultado foi puxado, principalmente, pelo consumo das famílias, empanturradas com crédito. ;Mesmo que tenhamos um bom Natal, ele não será suficiente para compensar o que perdemos de produção e consumo em outubro e perderemos no início de novembro;, destacou o técnico. ;Assim, não nos assustaremos se o PIB do quarto trimestre vier quase zerado ou negativo e se houver queda nos primeiros meses de 2009.; É por isso que o BC vem refazendo as contas para os resultados da economia no ano que vem. A estimativa da instituição deve ficar muito, mas muito, próxima de 3%. Isso, é claro, se o Comitê de Política Monetária (Copom), que se reunirá na terça e na quarta-feira (dias 28 e 29), não aumentar a taxa básica de juros (Selic) para conter os efeitos da maxidevalorização do real frente ao dólar sobre a inflação, freando ainda mais a atividade. ;O cenário está completamente indefinido. Mas que a inflação do ano que vem será mais alta, mais próxima do teto da meta, de 6,5%, por causa do dólar, isso, já dá para dizer;, afirmou Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management. ;Na minha avaliação, o Copom poderá, sim, continuar subindo os juros;, acrescentou. O BC está tentando, de todas as formas, irrigar o mercado e incentivar o crédito, mesmo que a prazos mais curtos e a taxas mais elevadas. ;O importante é que a roda da economia volte a girar;, vem dizendo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que fala em aumento entre 4% e 4,5% para o PIB em 2009. ;Minha aposta é de que o PIB cresça apenas 3% no próximo ano;, frisou Arthur Carvalho, economista-chefe da Ativa Corretora. Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a liberação de compulsórios dará um gás à economia neste momento de contração do crédito. Mas, isso não ocorrerá de uma hora para outra, pois, diante da onda de desconfiança que assusta o mundo, os bancos ficam com o dinheiro dos compulsórios nos cofres, garantindo a liquidez imediata, em vez de financiarem a produção e o consumo.