postado em 16/10/2008 08:45
Apesar do otimismo de Lula, o Brasil não ficará imune à crise, afirma uma reportagem publicada na edição desta quinta-feira (16/10) no jornal francês "Le Monde". "A Bolsa de São Paulo, a mais importante da América Latina, levou uma chicotada. Nenhum dos 66 títulos que compõem seu principal indicador, o Ibovespa, foi poupado", afirma o jornal.
Segundo o diário francês, apesar do "otimismo de fachada de Lula", que há alguns dias declarou que o Brasil "está vacinado contra crise", o país não escapará ileso da tormenta financeira.
O "Le Monde" afirma que a queda da bolsa brasileira está diretamente ligada a outro fenômeno associado à crise: a queda do preço das commodities, que representam metade do superávit do Brasil.
"Sozinhas, a Petrobras e a Vale do Rio Doce representam 35% do índice da bolsa.O agronegócio teme uma baixa substancial da demanda, principalmente na Índia e na China, além de um salto no preço dos gastos com o setor e um ressecamento do crédito rural."
Almofada de reservas
Para o "Le Monde", o real é outra grande vítima da crise, tendo se desvalorizado em 50% em relação ao dólar desde sua melhor cotação, no dia 1° de agosto.
"A queda do real resulta da grande demanda de dólares por parte das empresas. Ela deve-se também ao comportamento dos investidores, que após terem comprado em massa produtos em real muito rentáveis, os venderam para comprar dólares ou outras moedas mais baratas das quais tinham necessidade urgente." Apesar deste quadro, o jornal afirma que, de certa forma, o Brasil permanece "blindado" contra a crise, devido, principalmente aos bons fundamentos de sua economia.
"O governo se mantém atrelado à ortodoxia monetária e orçamentária. Após conseguirem escapar de várias crises anteriores, os bancos estão sãos e submissos às regras restritas. Desde que o Brasil se tornou credor externo, sua dívida não pesa mais tanto em proporção a seu PIB", diz o jornal.
Quanto ao Banco Central, o jornal diz que instituição pode intervir "quando bem entender por estar sentado em uma almofada muito confortável de reservas no valor de US$ 206 bilhões".
"Eis porque o presidente Lula repetiu na segunda-feira em Madri que o Brasil não tinha por que tomar medidas drásticas para enfrentar a crise", afirma o "Le Monde".