A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) já perdeu 25% nos últimos seis dias, sem que o mercado encontre o "fundo do poço" em preços das ações. Nesta quinta-feira, o mercado não conseguiu sustentar a recuperação vista em boa parte do dia e desabou na última hora de fechamento. O câmbio, após duas intervenções do Banco Central, cedeu para R$ 2,19.
O termômetro da Bolsa, o índice Ibovespa, desabou 3,92% e desceu para os 37.080 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,53 bilhões. E a Bolsa de Nova York, principal referência global dos mercados de ações, despencou 7,33%.
Pessimismo
Operadores citaram o pessimismo com o início da temporada de divulgação dos balanços de grandes bancos americanos. Entre os rumores que circularam na mesas de operações, as instituições financeiras devem revelar novos rombos com os créditos "subprimes". Na praça de Nova York, foram justamente os papéis deste setor que arrastaram a Bolsa, com perdas acima de 20%.
A notícia que provocou o desabamento dos mercados, no entanto, veio da economia real: a Standard & Poor"s rebaixou o "rating" (nota de risco de crédito) da General Motors e colocou a "nota" da Ford em perspectiva negativa (uma sinalização que pode fazer o "downgrade" num futuro próximo).
"O mercado ainda está muito incerto e ninguém quer virar o dia comprado (com ações em carteira)", avalia Rodrigo Silveira, gerente de operações da corretora e.um, a "extensão eletrônica" da corretora Umuarama. O dólar comercial foi cotado a R$ 2,198 na venda, em declínio de 3,59%. A taxa de risco-país marca 444 pontos, número 5,46% acima da pontuação anterior.
Para conter uma nova alta das taxas, o Banco Central voltou a intervir agressivamente. Pela manhã, às 10h35, o BC promoveu um leilão de venda de dólares, o quarto em dois dias, e poucas horas depois, às 12h45, realizou o leilão de "swap" cambial programado desde ontem.
"O mercado realmente caiu bastante hoje. O fato do Banco Central ter liberado mais compulsório dos bancos foi importante para isso. E esses leilões têm favorecido bastante o mercado", comenta Gilberto Martins, operador da corretora Guitta. "O que nós estamos vendo é que à medida que as coisas vêm acontecendo, eles (o governo) agem. Tudo isso é importante para tranqüilizar (o mercado)", acrescenta.
Europa
As bolsas européias encerraram os negócios de hoje em terreno negativo, com investidores ainda bastante preocupados com a possibilidade de uma recessão global. Em Londres, o índice FTSE cedeu 1,21%; o índice alemão Dax caiu 2,53%. Nos EUA, a Bolsa de Nova York recua 1,56%. Analistas e investidores ainda tentam avaliar a extensão das perdas, e dos efeitos sobre a economia real, da crise dos créditos "subprime".
Coordenação
Hoje, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou que o sistema financeiro global somente deve se recuperar do "baque" no segundo semestre de 2009. E o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou para novas quebras no sistema bancário mundial, num tom muito semelhante à advertência feita ontem à noite pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson.
Ontem, em uma ação coordenada inédita, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), o Banco Central Europeu (BCE), entre outros bancos centrais, decidiram um corte extraordinário e conjunto de juros, para animar as respectivas economias. A decisão, embora tenha recebido elogios de analistas que pediam um ação global para deter a crise financeira, teve efeitos restritos sobre o dia dos mercados financeiros.
No Brasil, o Banco Central voltou a mexer no recolhimento compulsório, promovendo sua terceira liberação de recursos retidos desde o início do agravamento da crise. Com as duas alterações anteriores, o total liberado na economia já chega a R$ 60 bilhões. Hoje, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que a inflação medida pelo IGP-M, em sua primeira prévia mostrou aceleração: subiu 0,55%, ante variação nula no mesmo período em agosto.