Jornal Correio Braziliense

Economia

EUA: o país da livre-empresa prestes a entrar no capital dos bancos

;

A solução encontrada por Londres para salvar seu sistema financeiro alimenta o debate no país da livre-empresa, os Estados Unidos, onde os poderes públicos não excluem a possibilidade de terem uma participação direta no capital dos bancos. O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, fez algumas reflexões, na quarta-feira, que mostram que Washington não exclui uma solução já abraçada por alguns analistas e legisladores. "Empregaremos todas as ferramentas que nos foram dadas (com o plano de resgate financeiro) para uma maior eficiência, incluindo a capitalização de instituições financeiras de todos os tamanhos. Vamos conceber programas que estimulem as empresas saudáveis a participar", declarou Paulson, em uma entrevista coletiva. O programa de estabilização do sistema financeiro, promulgado recentemente por iniciativa de Paulson, permite ao governo contar com US$ 700 bilhões, mas, até agora, parecia que sua prioridade seria comprar uma parte dos ativos podres dos bancos, acumulados durante a bolha financeira. Ao ser ouvido diretamente sobre a possibilidade de uma recapitalização dos bancos americanos com dinheiro público, Paulson se recusou a "especular". De acordo com o jornal The New York Times, a prudência exibida por Paulson seria apenas uma cortina de fumaça para esconder discussões em estado avançado. Citando altos funcionários do governo, o NY Times afirma que o Tesouro está disposto a adquirir parte de "vários bancos americanos para tentar restabelecer a confiança". O Plano Paulson daria ao governo o poder de tomar essa iniciativa, completa o jornal, acrescentando que "o plano americano de recapitalização se transformou em uma das opções preferidas em discussão em Washington e em Wall Street". A idéia de um Tesouro acionista, que já é uma realidade, após a estatização, de fato, da seguradora AIG e de organismos de refinanciamento hipotecário, como Fannie Mae e Freddie Mac, é promovida pelo influente senador democrata por Nova York Charles Schumer. "A reação de Londres às perturbações dos mercados financeiros é algo que deveríamos considerar aqui", afirmou. Ontem, o governo britânico propôs aos bancos uma entrada em seu capital da ordem de 50 bilhões de libras (US$ 87 bilhões), o que se traduziria em uma nacionalização parcial dos que recorreram a essa opção, que será acompanhada de ajudas ao financiamento por até 450 bilhões de libras (US$ 790 bilhões). A consultoria RDQ Economics também acredita que Paulson deverá se inspirar nas propostas do ministro britânico Alistair Darling, que chega sexta-feira a Washington para a reunião dos ministros das Finanças dos sete países mais industrializados do mundo (G-7). "Se o secretário do Tesouro seguir o conselho (dos britânicos), poderemos encontrar, finalmente, um guarda-fogo mais amplo", estimou RDQ. Schumer avaliou que, se o governo receber "partes (do capital dos bancos) em troca de um aporte de capital, ou de liquidez, isso permitirá aos contribuintes se verem favorecidos com uma futura melhoria" na situação financeira dos bancos. A idéia pode despertar um coro de lamentações tanto na direita, que não vê com bons olhos qualquer questionamento ao modelo liberal, quanto na esquerda, que vacila em dar mais dinheiro aos banqueiros, alegando que eles parecem já ter dado prova suprema de incompetência.