Lubrificante dos negócios, o dinheiro está mais caro. Na esteira do terremoto financeiro, quem empresta está mais cauteloso, exige um prêmio maior e espera um retorno mais rápido. Combustível do consumo que vem empurrando a economia brasileira, o crédito fácil e farto secou, seja para comprar televisores ou o carro zero.
As grandes lojas de varejo continuam cheias de brasileiros que se valem do crediário para trocar de geladeira ou os móveis da casa. Seus gerentes negam qualquer mudança recente na política de crédito, mas os próprios donos de redes como Ponto Frio ou Ricardo Eletro reconhecem que há mais ;cuidado; na hora de aprovar novos cadastros.
Nas contas da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), o crédito para consumo está 3% ao ano mais caro. Aos clientes que pagam entre 0,99% e 6% ao mês, parece pouca diferença. O problema é outro. Os prazos encolheram, e isso faz muita diferença para quem mede as compras conforme o impacto na renda mensal.
;O mais importante para o consumidor são os prazos, que quando ficam menores não cabem no bolso;, diz o diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira.
Ele mostra o dilema com um exemplo simples. Para comprar uma geladeira de R$ 1,5 mil, o consumidor podia dividir o papagaio em 36 parcelas de R$ 104 ; algo que caberia num salário de R$ 418. Com o prazo menor, de até 12 meses, as parcelas passaram a R$ 181, quantia que exige uma renda bem maior, de R$ 724.
O efeito é ainda mais nítido na venda de automóveis, setor que emprestava com juros baixos e sem entrada. No Distrito Federal a alta dos juros foi generalizada. Em bancos de primeira linha, como Bradesco e Itaú, as taxas subiram de 1,4% para 1,85% nas últimas duas ou três semanas, revela Alessandro Soldi, diretor do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv).
;O problema não é só o aumento dos juros, mas a restrição ao crédito. O cliente pode ter uma taxa ainda mais alta, dependendo do risco do negócio;, alerta. Ele explica que se antes era muito comum fazer financiamentos de automóveis em 60 meses sem entrada, hoje os bancos estão selecionado melhor os clientes.
;O dinheiro está escasso com essa crise financeira. Ou os bancos aumentam a taxa praticada ou pedem uma entrada para reduzir o risco. Ou então diminuem o prazo de 60 para 48 meses . O parcelamento de 72 meses saiu de operação;, diz Soldi.
Em algumas concessionárias, como Orca e Jorlan, as tabelas de juros chegaram a aumentar três vezes apenas nos últimos 15 dias, quando a taxa média que era de 1,35% ao mês passou para 1,65%. Esse movimento também se dá nas revendedoras de carros usados. ;Recebemos novas tabelas quase todos os dias e os clientes estão sumindo. Tivemos uma queda de 20% nas vendas desde que a crise começou;, lamenta Rodrigo Ferreira Sintra, gerente da 704 Veículos, na Cidade do Automóvel.
Nesse caso, os juros que há 15 dias eram de 1,55% ao mês já estão em 1,70%. E os prazos também encolheram. Sintra cita, como exemplo, as condições de financiamento do Banco Safra, que tiveram redução de 60 para 48 meses. No caso dos carros novos, ainda há alguma ajuda dos bancos das próprias montadoras, que estariam segurando as correções nas tabelas. ;Há subsídios pelos bancos das montadoras para tentar segurar esses aumentos. As concessionárias também estão reduzindo as margens para não repassar a alta dos juros para os clientes;, afirma Alessandro Soldi, do Sincodiv, também diretor da Saga e da Estação Fiat. Segundo ele, os bancos da Volkswagen e da Fiat estão mantendo as taxas de 1,47% a 1,49%.
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