Jornal Correio Braziliense

Economia

Perfil de bancos livra Brasil de crise hipotecária, diz economista

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Até mesmo o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admite que a crise financeira dos Estados Unidos poderá reduzir o ritmo de crescimento da economia brasileira em 2009. Economistas descartam, no entanto, que o país possa enfrentar algo nos moldes da crise hipotecária, que começou nos EUA e já deixa seqüelas na Europa. Segundo o economista Jason Freitas Vieira, economista-chefe da Uptrend Consultoria Econômica, a diferença de perfil entre os bancos brasileiros e os americanos impede que a crise de crédito hipotecário de alto risco ("subprime") atinja o sistema financeiro por aqui. Além de ter operações menos alavancadas --que significa investir em operações de risco que podem chegar a trazer perdas em montante superior ao patrimônio--, os bancos brasileiros dispõem de um varejo capaz de garantir a entrada generosa de recursos. "O perfil é diferente dos bancos aqui e nos Estados Unidos e isso define que não vamos ter crise de hipotecas. Somos menos alavancados e a base de varejo é muito grande nos bancos brasileiros, o que garante recursos. Também não temos ativos podres (com alto risco calote). A crise hipotecária é baseada em empréstimos sem vergonha, os "subprime´, com lastro ruim, que era a especulação imobiliária", explica Vieira. A atitude dos Estados Unidos beira a irresponsabilidade, conforme o economista. Segundo ele, há pelo menos três anos o governo e o sistema financeiro têm sido avisados dos riscos a que a economia americana se submetia, financiando clientes, de modo geral, de baixa renda, por vezes com histórico de inadimplência e com dificuldade de comprovar capacidade de pagar dívidas. "Os americanos foram alertados. E até 2007, ignoraram. No ano passado, estive nos EUA e eles ainda estavam oferecendo os "subprime´ na televisão", disse Vieira. Segundo o economista do banco Real, Cristiano Souza, os bancos brasileiros, poupados dos efeitos direto da crise por não carregarem produtos com os problemáticos créditos "subprime", podem sofrer de forma indireta as conseqüências. "Os bancos podem ter alguma restrição para captar ´funding´ (recursos para financiamento) no exterior. Lá fora, o mercado para colocação de títulos e debêntures (ativos de renda fixa) praticamente desapareceu", diz ele. Além do mercado doméstico, os bancos também buscam no exterior recursos para emprestar à empresas e pessoas na praça financeira global. Num ambiente de alta aversão ao risco, no entanto, os grandes investidores globais evitam fazer negócios com empresas de economias emergentes.