A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, não esconde sua preocupação com o impacto psicológico da crise internacional na disposição do empresariado de investir e das famílias em consumir, o que, se confirmado, será um baque no ritmo do crescimento da economia do país. Mas ela avisa: no que depender da Caixa, não faltará dinheiro para o consumo, para a ampliação de fábricas nem para obras de infra-estrutura.
;Temos folga para ampliar nossa carteira de crédito em até R$ 100 bilhões;, diz. Desse montante, foram disponibilizados, somente para o último trimestre, R$ 7 bilhões para financiar a casa própria, R$ 11 bilhões para as pessoas físicas e outros R$ 11 bilhões para as empresas. Esse reforço no crédito está vindo de um efeito positivo da crise para a Caixa: os investidores estão preferindo aplicar seu patrimônio na instituição, o que resultou em captação líquida de R$ 8,5 bilhões na caderneta de poupança e de R$ 2,5 bilhões em certificados de depósito bancário (CDBs) entre janeiro e setembro.
Apesar da crise e de possíveis cortes no Orçamento da União, ela promete avanços nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Veja os principais pontos da entrevista que Maria Fernanda concedeu ao Correio Braziliense.
Como a senhora está vendo a escassez do crédito? Há uma preocupação grande dentro do governo com a possibilidade de faltar dinheiro para investimentos produtivos e para o consumo, os pilares do crescimento econômico.
Realmente, não há como negar a escassez de crédito no mundo, por causa da crise financeira americana. Mas no que depender da Caixa, não haverá problemas para as empresas e para as pessoas físicas nem faltará dinheiro para obras de infra-estrutura, como saneamento básico e habitação.
Como a senhora garante isso?
Temos condições de ampliar a nossa carteira de crédito em até R$ 100 bilhões sem afetar a nossa situação patrimonial. Apenas para habitação, separamos R$ 7 bilhões para o último trimestre do ano. Temos mais R$ 11 bilhões disponíveis para as pessoas físicas e R$ 11 bilhões para as jurídicas.
A senhora já sentiu aumento da procura por empréstimos e financiamentos nas agências da Caixa com o agravamento da crise internacional?
Com certeza. E isso não está acontecendo apenas do lado do tomador do crédito. Os investidores passaram a ver a Caixa como porto seguro. Somente em setembro, mês mais agudo da crise internacional, a Caixa captou R$ 400 milhões em certificados de depósito bancário (CDBs), 16% do total de todo o ano. E melhor: pagamos taxas correspondentes a 97,5% dos CDIs, títulos com os quais os bancos negociam dinheiro entre si. Por isso, não tivemos que aumentar os juros cobrados nas nossas operações de crédito num momento em que todo o mercado ajustou para cima. Há bancos pagando mais de 110% do CDI para se financiar no mercado.
Mas como está o desembolso das operações de crédito?
Temos tido resultados excelentes em todas as linhas. De janeiro a setembro, liberamos R$ 16 bilhões para a compra da casa própria. Trata-se de um volume 50% superior ao registrado no mesmo período de 2007. Somente no terceiro trimestre do ano, foram R$ 7 bilhões. Se a demanda continuar nesse ritmo, vamos fechar o ano com desembolsos de R$ 23 bilhões, o terceiro recorde consecutivo na área de habitação e dinheiro suficiente para a aquisição de mais de 500 mil moradias. Nas linhas para as empresas, as concessões chegaram a R$ 20 bilhões, com crescimento de 23,5% ante os nove primeiros meses do ano passado. Para as pessoas físicas, emprestamos R$ 20 bilhões, um avanço de 20%. No saneamento básico, as liberações chegaram a R$ 3,8 bilhões, 50% a mais. Todos os números são ascendentes.
A corrida por crédito na Caixa não leva a instituição a assumir mais riscos? A inadimplência está sob controle?
Temos um dos melhores sistemas de controle de riscos do mercado. Desde o início do ano, as nossas taxas de inadimplência estão em queda, sobretudo na carteira comercial, entre as pequenas e médias empresas, às quais temos dado prioridade para empréstimos ; elas ficam com quase 90% dos financiamentos destinados a pessoas jurídicas e o dinheiro é usado para reforçar o capital de giro por mais de um ano. Posso garantir que todas essas operações têm sido fechadas como muita prudência, de forma conservadora. É isso que nos têm permitido avançar no mercado, ocupando o espaço que a concorrência está abrindo.
Que espaço é esse?
Entre as grandes empresas. Há um movimento delas em direção à Caixa. Isso também está acontecendo no crédito consignado (segmento do qual os pequenos e médios bancos estão saindo, por incapacidade de operar). E como temos folga para atender quem precisar de crédito, todo mundo será contemplado, desde que se enquadre nos nossos requisitos de segurança. Temos de lembrar que, historicamente, a Caixa sempre passou bem por momentos de crise. O banco tem uma imagem consolidada, que nos fez registrar captação líquida na caderneta da poupança de R$ 8,5 bilhões entre janeiro e setembro (a meta prevista para todo o ano), dinheiro que está sendo usado para financiar moradia para a classe média.
Qual é o impacto nos cofres da Caixa das recentes liberações de depósitos compulsórios pelo Banco Central?
Na primeira liberação, fomos beneficiados com R$ 300 milhões. Na mais recente, teremos R$ 835 milhões para comprar carteiras de crédito de pequenos bancos. E temos interesse em operações de crédito consignado. Vamos ver os bons negócios do mercado.
As obras do PAC podem ser prejudicadas pela restrição do crédito?
O ritmo está acelerado e não vai parar. Temos entregado empreendimentos em várias regiões. O PAC está, sim, transformando o Brasil em um canteiro de obras. Além da contratação de projetos, estamos liberando recursos. E isso mostra que há obras acontecendo. Com os empreendimentos de habitação do PAC, a média de construção de moradias no governo Lula será a maior desde o governo Médici.