O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) minimizou possíveis efeitos da crise internacional sobre investimentos no setor energético brasileiro e admitiu que o Tesouro Nacional poderá emprestar recursos para a Petrobras fazer os investimentos previstos em seu plano estratégico.
"Trabalhamos com a hipótese de não haver nenhum atraso. Não só porque a Petrobras tem seus próprios meios, próprios recursos, como se for necessário, o Tesouro Nacional e o BNDES poderão socorrer a Petrobras. Não devemos esquecer que esse é um programa [de investimentos] de médio prazo. Os desembolsos que a Petrobras tiver que fazer serão feitos ao longo de um certo tempo", afirmou Lobão, após participar do evento Café com Energia, promovido pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Lobão foi além e disse acreditar que grandes empreendimentos do setor elétrico, como as usinas do rio Madeira, não serão afetados pela turbulência no mercado internacional e a escassez de crédito para investimentos.
"Estou convencido de que não faltarão recursos. Haverá sempre recursos no mundo para determinadas obras. Energia elétrica é o filé mignon. O exemplo foi o leilão de ontem, que se imaginava ser um fracasso e foi um sucesso retumbante. Todos se interessam em aplicar onde o lucro é garantido", observou.
Para Lobão, há recursos no mundo, que não serão, necessariamente mais caros. Para ele, para algumas atividades onde a "lucratividade não é tão clara", a tomada de crédito ficará mais cara.
A atual turbulência não influenciará nos estudos que o modelo vem fazendo para mudar a regulação sobre o setor de petróleo, em função das descobertas na camada pré-sal, acrescentou o ministro.
"Essa situação da economia mundial, no meu entendimento, terá uma definição em 30 a 60 dias. E o marco regulatório do pré-sal não entrará em vigor senão no final do ano ou no começo do ano que vem. Nada se vai fazer de afogadilho, atabalhoadamente, vai se fazer com cuidado".
Empresários presentes ao evento, no entanto, não demonstraram o mesmo ânimo de Lobão em relação aos investimentos no setor de energia nos próximos anos. O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, disse que há um "receio momentâneo da crise", e que a falta de crédito deverá afetar o programa de investimentos na cadeia de petróleo e gás.
"Vamos ter uma derrapagem de tempo, mas tão logo voltem os financiamentos, a tendência é que as empresas voltem a direcionar recursos para o Brasil", afirmou.
O presidente do Conselho de Energia da Firjan, Armando Guedes, criticou a proposta de Lobão de criar uma estatal para gerenciar recursos e reservas do pré-sal. Ele destacou que serão necessários recursos da iniciativa privada, "que estarão mais escassos" nos próximos anos.
Segundo ele, com o custo de extração do barril a US$ 12, explorar as reservas de Tupi e Iara demandará algo em torno de US$ 144 bilhões.
"É um volume de recursos muito grande, acima do atual plano de investimentos da Petrobras, que é de US$ 112 bilhões até 2012", salientou.