A ameaça de que o pior cenário do mercado financeiro se concretize, a rejeição do pacote anticrise de US$ 700 bilhões, provoca oscilações históricas nas Bolsas de Valores, mesmo em comparação com o episódio do 11 de setembro de 2001.
A Casa dos Representantes (Câmara dos Deputados) dos EUA rejeitou o pacote de salvamento para o setor financeiro norte-americano. O plano foi rejeitado com 228 votos contra; a favor foram 205. Em nova declaração em cadeia nacional, o presidente George W. Bush havia adiantado que esperava uma votação "difícil", mas havia manifestado confiança na aprovação do projeto.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a queda do mercado superou 10%, o que fez o circuit-breaker, o mecanismo de interrupção dos negócios, em caso de fortes oscilações. Em 2001, no dia dos atentados terroristas, a Bolsa fechou em queda de 9,06%. Segundo a assessoria da Bolsa, o circuit-breaker somente deve ser acionado novamente se a baixa do índice Ibovespa chegar a 15%.
Às 15h36, o termômetro dos negócios da Bolsa, o Ibovespa, despenca 10,49% e desce para os 45.455 pontos. O giro financeiro é de R$ 3,71 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York, de repercussão global retrocede 4,76%. As ações líderes da Bolsa sofrem perdas superiores a 10%: a ação preferencial da Petrobras recua 11,93%, enquanto a ação da Vale do Rio Doce cede 12,14%.
A Bolsa não registra valorização para quaisquer das 66 ações que compõem o índice Ibovespa, que respondem por 90% do volume financeiro do mercado acionário brasileiro. No topo das perdas, a ação da Rossi Residencial despenca 24,09%; a ação da BM-Bovespa cai 16,48% e a ação da CSN perde 15,90%.
O dólar comercial é cotado a R$ 1,971 na venda, com avanço de 6,48%. A taxa de risco-país marca 334 pontos, número 16,78% mais alto que a pontuação anterior.
Incertezas
O estresse do mercado financeiro já começou logo de manhã, com a notícia de que o pacote de US$ 700 bilhões somente seria totalmente votado na quarta-feira. Analistas também não apreciaram o fato de que o projeto de lei no Congresso "fatiou" a liberação dos US$ 700 bilhões pedidos pelo Tesouro dos EUA para resgatar o sistema financeiro.
Para piorar o cenário, o noticiário econômico europeu também contribuiu para azedar o humor dos investidores. O banco alemão Hypo Real Estate somente escapou da falência graças a um crédito de 35 bilhões de euros, garantido essencialmente pelo Estado alemão. O britânico Bradford & Bingley (B), também é um dos gigantes europeus do setor de hipotecas, também teve que ter salvo pelo governo local. E nos EUA, o banco Citigroup, um dos maiores grupos financeiros do mundo e um dos mais atingidos pela crise das hipotecas, informou que irá adquirir as operações bancárias do rival Wachovia - quarto maior banco dos EUA -, com a assistência da Corporação Federal de Seguro de Depósito (FDIC, na sigla em inglês), órgão do governo que garante operações do setor bancário americano.